COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA
Aula 3 – Processos Cognitivos
INTELIGÊNCIA e CRIATIVIDADE
Introdução:
Estudaremos neste capitulo
dois processos que participam da
aquisição do conhecimento: A inteligência e a criatividade. Estes junto com
outros processos cognitivos são fundamentais à aquisição do conhecimento. Os
processos cognitivos são: Percepção,
Memória, Inteligência, Criatividade, Pensamento, Linguagem, Formação de
Conceitos, Raciocínio, Resolução de Problemas e a própria Aprendizagem.
Nesta disciplina
compreenderemos melhor a importância e relação entre eles, assim, o professor terá condições de organizar suas
aulas, incluindo em seu planejamento atividades que desenvolvam os processos
cognitivos e facilitem a aprendizagem de seus alunos.
1. Processos
Cognitivos
1.2. - INTELIGÊNCIA
Iniciaremos fazendo uma
revisão no conceito de inteligência. Um conceito bem complexo que envolve
muitos elementos, cuja sua definição dependerá também da concepção que o
aborda.
Na psicologia
provavelmente foi conceito que mais evoluiu. Em cerca de 130 anos a
psicologia caminha com suas pesquisas e estudos e tem havido uma grande
evolução na forma de pensar sobre a inteligência e conseqüentemente o que é
ser inteligente.
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Fig 1: Ser
inteligente envolve muitos aspectos da cognição, além de outros fatores internos e externos.
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No capítulo anterior estudamos dois processos
importantes para compreensão dos processos que serão refletidos neste
capítulo: percepção e memória.
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Vários autores, baseados em suas propostas teóricas, buscam definir a
inteligência, assim, temos um conceito complexo e difícil de definir em poucas palavras.
Nas aprendizagens
escolares ou do cotidiano, o ser humano necessita articular ideias e buscar
adaptação as novas situações. Contudo, observando as pessoas percebemos que
elas reagem de forma diferente diante de um desafio, uma atividade
corriqueira ou até mesmo, durante a
resolução de um problema.
Iniciaremos agora algumas
reflexões importantes sobre um dos processos cognitivos mais estudados na
psicologia: a inteligência.
Quem você
considera inteligente? Reflita...
Podemos afirmar que
existem pessoas mais inteligentes e outra menos?
Por quê?
Teríamos como mensurar a inteligência de uma pessoa? Como?
E para que estas
informações são importantes? Irá interferir negativamente ou positivamente na
vida de alguém?
O fator mais importante
seria quantidade ou qualidade na inteligência?
Como falamos inicialmente
no texto este conceito muito se modificou ao longo da história das ciências e
mais especificamente ao longo da história da Psicologia e ainda hoje trás
algumas polêmicas em seu debate. Atualmente a maioria dos psicólogos defende
a proposta da qualidade da inteligência. Este grupo propaga a idéia cognitivista. Enquanto que outro
grupo, os psicometristas defendem
a idéia da mensuração da inteligência. Medem a capacidade intelectual através
de testes padronizados.
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Fig. 2 –
Os cognitivistas acreditam que existem
várias inteligências.
Somos versáteis e mais inteligentes do que
imaginamos.
Os cognitivistas acreditam que as pessoas podem
melhorar a
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Estudamos
na Psicologia da Educação I entre outros assuntos alguns processos
cognitivos: Percepção e Aprendizagem.
|
qualidade de sua
inteligência sendo estimuladas ao longo do seu desenvolvimento, ou seja, a
escola, a família e a própria sociedade são coadjuvantes neste processo
evolutivo.
A ideia de uma
inteligência única vem sendo questionada, assim como a forma de quantificá-la
por meio de testes. Estes avaliariam apenas a capacidade verbal e
lógica-matemática. Ao contrário, a inteligência pode ser formada pela síntese
de diversas competências, como a espacial, musical e interpessoal. (Gardner,
1994)
Gardner assim como outros
psicólogos cognitivistas entende que a condição para um bom desenvolvimento
da inteligência aumentaria a possibilidade de uma aprendizagem mais
eficiente. Assim, o grupo de psicólogos cognitivistas alega que não se trata
simplesmente de mais ou menos inteligência e sim da qualidade de
desenvolvimento.
Uma criança deve ser
estimulada a pensar em todas as fases de seu desenvolvimento, Uma estimulação
adequada ajuda a desenvolver sua linguagem, o raciocínio lógico, a percepção
e a memória; e todos os outros processos mentais, tendo assim, um efeito
positivo no desenvolvimento cognitivo, social e afetivo desta criança.
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Fig. 3 –
A criança bem estimulada tem condições de
desenvolver sua inteligência.
No início do
desenvolvimento cognitivo o aprendizado é feito através dos sentidos e da
atividade motora. Desta forma a criança desenvolve sua inteligência e terá
condições de se adaptar ao mundo. Isto é o que pensava o suíço Jean Piaget
que revolucionou a capacidade de compreensão da inteligência humana.
Nas fases posteriores da
infância, a lógica formal que rege as ações do sujeito evoluirá até chegarmos
ao pensamento flexível e abstrato do adulto; que também deve ser estimulado
até o fim dos seus dias.
No próximo tópico faremos um breve passeio na história e verificaremos
a evolução do conceito aqui estudado. Pois, trata-se de
um dos conceitos que mais se transformou ao longo
da história das ciências e mais especificamente da Psicologia.
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Sugerimos antes de estudar este conteúdo reler os
trechos sobre Percepção na
disciplina Psicologia da Educação I.
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Veremos que muito do que
se pensou ainda hoje tem alguma repercussão.
1.2.1 Um breve histórico do conceito de inteligência na Psicologia.
O pensamento
pré-científico nos mostra que os Egípcios
tinham a ideia de que o pensamento estava localizado no coração e o
julgamento na cabeça e nos rins. Esta afirmação aparentemente absurda é
parcialmente considerada e debatida na teoria da inteligência emocional e
assim, o fundador desta teoria que estudaremos de forma mais aprofundada
posteriormente, considera o “coração”, representados pela idéia das
emoções como responsável por importantes decisões em nossa vida.
Mais tarde alguns
filósofos fizeram propostas já com metodologias científicas:
Pitágoras e Platão foram os primeiros a levantar a idéia de que a
mente se encontrava no cérebro. Aristóteles
defendeu a idéia de que o processo do pensamento encerrava componentes
emocionais e morais ou éticos, fazendo assim, uma separação dos processos
emocionais e racionais.
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Fig.4 –
Pitágoras, Platão e Aristóteles, respectivamente.
A
filosofia mostrou à ciência, a idéia de que a inteligência acontece a nível
cerebral.
Gardner (1994) em seu
livro intitulado Estruturas da Mente explica que um fisiologista chamado
Joseph Gall no final do século XVIII propôs uma teoria: Frenologia. Esta
teoria falava que diferentes partes do cérebro serviriam a funções distintas.
Esta diferença era mostrada anatomicamente pelas saliências e reentrâncias do
seu contorno (sulcos cerebrais). As discrepâncias anatômicas seriam
indicadores de capacidades e traços de personalidade. Este pesquisador
defendia o aspecto hereditário, biológico, na formação da personalidade e da
inteligência. (apud Cassundé Portella, 2008).
Hoje a ciência reconhece o fator biológico
como fundamental ao
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O xadrez é um jogo milenar
que atualmente é muito utilizado na escola e em consultórios para estimular o
desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático.
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desenvolvimento dos
aspectos citados, contudo, também reconhece o ambiente como outro fator fundamental.
A teoria supracitada não
ganhou adeptos nem comprovação científica e com isto perdeu seu espaço e não
se tornou uma teoria científica. Porém, deixou uma reflexão positiva: a de
que existem diferenças de inteligências entre as pessoas.
Outra teoria que não tem
mais relevância científica é de Galton
um engenheiro britânico que considerava também diferenças individuais e
entendia a inteligência como fator unitário. Foi o primeiro a tentar criar um
teste para medir a capacidade mental.
Seguindo nossa história, a
chegada dos testes de inteligência, avaliação
quantitativa, reforça a psicometria
–
área da
psicologia que estuda e desenvolve instrumentos que mensuram a inteligência
humana.
Destaque para Spearman (1863-1945) que propôs a
teoria bifatorial: a inteligência,
para ele, era medida em caráter geral somada a perícias específicas, ou seja,
em cada atividade seria necessário uma dose de inteligência geral somada à
perícia específica daquela atividade. Por exemplo, na matemática: resolver um
problema matemático de aritmética necessitaria inteligência geral mais
compreensão de conceitos numéricos.
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Fig 5 –
A inteligência pode ser avaliada
quantitativamente e qualitativamente.
Contudo, o psicometrista
que mais se destacou e ainda hoje é conhecido em todo o mundo foi Alfred Binet.
Em 1904, o governo francês
convocou um psicólogo para criar uma forma de avaliar crianças em escolas. Os
professores franceses estavam incomodados com a diferença no ritmo de
aprendizagem destas crianças. Algumas crianças aprendiam mais rapidamente que
outra e eles desejavam separá-las em turmas distintas.
Assim, surgiram os primeiros testes de
inteligência padronizados. Hoje muito conhecidos, pois, avaliam o Quociente
de Inteligência
|
A filosofia,
a medicina, a biologia, a antropologia e a sociologia, dividem até hoje o
cenário de estudos com Psicologia sobre a inteligência.
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(Q.I), que é obtido pela
divisão da idade mental –
idade
avaliada no teste –
pela idade
cronológica –
idade real do
sujeito avaliado; multiplicado por 100 (percentual). O resultado
numérico é interpretado pelos
psicólogos como dentro do padrão típico – maioria da população, acima ou abaixo do padrão – pequeno percentual que
remete aos alunos com necessidades educativas especiais.
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Fig.
06 – A maioria das crianças avaliadas nos testes tem o Q.I. apresenta escore
típico; esperado para sua idade (em torno de 100).
Quando se aborda o tema
inteligência muitas questões devem ser consideradas. De acordo com Miranda
(2008) uma das grandes polêmicas é a questão dos testes que avaliam o
quociente de inteligência (Q.I); ele deve refletir a soma dos resultados de
várias tarefa avaliadas num indivíduo, ou seja, suas habilidades cognitivas
como memória, raciocínio e linguagem. Num entanto, ele não representa a
desempenho cognitivo em sua totalidade. Pode-se, contudo, detectar alguns
déficits específicos ou atraso global no desenvolvimento. Além deste tipo de
avaliação, a inteligência pode ser avaliada com outros instrumentos que
mostram a qualidade e o nível de desenvolvimento de uma pessoa em relação a
sua faixa de idade. Exemplo: Exames Clínicos
Piagetianos.
Desta forma, logo de
início Binet encontrou adeptos e oponentes, entre estes últimos, Jean Piaget, já citado anteriormente,
foi um dos profissionais que aplicavam os testes nas crianças. Piaget
constatou durante a aplicação dos testes que muitas crianças deixavam de
acertar por não entender a pergunta ou ainda por terem respostas
interessantes, mais com a lógica diferente da do adulto, porém adequada para
sua faixa etária. Assim ele discordou de Binet que interpretava a situação como erro ou “falta de
inteligência”. Piaget considerou que a criança evolui sua lógica até chegar ao pensamento
formal do adulto. Conheceremos melhor sobre seu pensamento na
próxima disciplina: Fundamentos Psicológicos e
Epistemológicos da Educação.
|
Uma pessoa que tem como
resultado no teste a idade mental igual e sua idade cronológica têm, portanto
o Q.I = 100, que corresponde ao
Q.I. médio da população.
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1.2.1.1 -
Conceitos e propostas atuais da Inteligência humana:
Nos últimos anos os
estudos nesta área continuam avançando de forma significativa. Vários
psicólogos continuam se preocupando e estudando a inteligência atualmente.
Apesar da proposta de Binet e a mensuração da inteligência ter tido forte
influência durante muitos anos e ainda hoje uma parcela de psicólogos
comungarem com estas idéia e técnicas, uma grande maioria tem um visão mais
ampla deste conceito, considerando não a quantidade e sim a qualidade da
inteligência humana.
1.2.1.1.1- A Inteligência e as Emoções: Teoria da
Inteligência Emocional:
Entre os psicólogos que
defendem a idéia da qualidade do desenvolvimento nos referimos com destaque a
Daniel Goleman, um psicólogo americano com titulação máxima em estudos nesta
área, que escreveu um livro, intitulado “Inteligência Emocional”.
Neste livro Goleman
apresenta a proposta de que saber usar as emoções é o melhor caminho para
sucesso de pessoas; tanto no trabalho como na vida pessoal.
Num seminário apresentado
em São Paulo em abril de mil novecentos e noventa e nove, Goleman afirma que
Q.I. elevado e sucesso profissional não caminham necessariamente juntos. Ele
cita alguns exemplos ente eles o de um jovem que entrou numa famosa
universidade americana com 100% de acerto nas questões e não conseguiu terminar
o curso por falta de motivação.
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Fig. 07 –
Aprender a lidar com as próprias emoções e
de outras pessoas facilita a adaptação o desempenho.
Goleman defende que além da razão que influencia
nossos atos, as emoções são responsáveis pela adaptação e resoluções de
difíceis
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Daniel Goleman com
sua proposta da inteligência
emocional revolucionou a forma de pensar a inteligência, pois,
mostrou a importância das
emoções neste processo tão complexo.
Toda pessoa deve tentar
desenvolver estas áreas da inteligência emocional para melhorar a qualidade
de suas relações e consequentemente sua vida pessoal e profissional.
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problemas. Goleman destaca
algumas habilidades emocionais fundamentais para atingirmos nossos objetivos
e nos adaptarmos bem as situações que vivemos: controle do temperamento,
adaptabilidade, persistência, amizade, respeito, amabilidade e empatia. (apud
Cassundé Portella, 2008)
Daniel Goleman divide a
inteligência emocional em cinco áreas fundamentais, são elas:
1.
Autoconhecimento emocional: reconhecer um sentimento
enquanto ele ocorre –
nomeando e
facilitando a relação com este sentimento. Ex: no caso de sentir ciúme e
podendo controlá-lo.
2.
Controle emocional: sucesso em lidar com os
próprios sentimentos –
saber
expressá-los ou ainda controlar ou resolver problemas que o envolve. Ex: na raiva
3. Auto-motivação: concentrar a energia no objetivo esperado facilita o desempenho.
Ex: tirar bom proveito da ansiedade.
4. Reconhecimento das emoções de outras pessoas: reconhecer os objetivos
e motivos alheios facilita a relação e a resolução de possíveis problemas.
Comentário: devemos desenvolver desde cedo nas crianças esta habilidade.
5. Habilidades em relacionamentos interpessoais: Esta habilidade bem
desenvolvida facilita nossas ações e convivência harmoniosa. Ex: com os
colegas no trabalho, com a família e com os
alunos.
Desenvolvimento da Inteligência emocional:
Começar a desenvolver
estas habilidades na infância, ou melhor, ainda quando bebê é o mais
indicado. O bebê que tem esta oportunidade oferecida por pais ou outros
educadores pode identificar as emoções e reagir positivamente; assim, como
aprender a administra uma emoção difícil de suportar, como a frustração. Logo
cedo a criança já começa a experimentar emoções como a angustia e o ciúme,
além do prazer e alegria. Saber que o estão sentindo e como lidar com elas facilita
o amadurecimento emocional e conseqüentemente a inteligência emocional. Desta
forma, é mais provável que cresça um adulto mais ajustável e adaptável ao seu
ambiente.
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Fig.8 – Os educadores podem
ensinar também como as crianças podem lidar com suas emoções.
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Promover o desenvolvimento
destas competências em nossos alunos favorece nossas relações em sala de aula
e o clima de aprendizagem.
O professor deve ajudar seu aluno a aprender a administrar suas
emoções, nomeando e explicando os significados subjacentes ao contexto.
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1.2.1.1.2: Uma
Inteligência ou Múltiplas Inteligências?
Lembra quando falamos da
teoria chamada Frenologia do fisiologista Gall? Ela deixou uma contribuição:
a reflexão de que as pessoas não são iguais do ponto de vista da
inteligência. E foi também inspirado nestas idéias que o psicólogo americano
Howard Gardner baseou sua proposta.
Você acha que temos uma inteligência ou muitas
inteligências? Gardner propõe que temos várias inteligências.
Howard Gardner propõe em
sua teoria, baseado em longas pesquisas, que temos múltiplas inteligências.
Como já citamos Gardner não foi o pioneiro nesta concepção como vimos no
breve histórico do conceito de inteligência. Outros cientistas falaram em
diferenças na inteligência. Contudo, nenhum pesquisador anteriormente
baseou-se em tantas pesquisas que leva a entender que a mente não é singular
e sim plural. A diferença nas inteligências resulta em capacidades diferentes
e talentos inusitados.
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Fig. 09 – Desde cedo as crianças demonstram maiores habilidades numa
inteligência ou combinação de inteligências.
Howard Gardner respaldou
seus estudos em pesquisas nas áreas da Neuropsicologia, da Antropologia, das
Ciências Biológicas e da própria psicologia. Investigou pessoas de diferentes
profissões e capacidades e com atenção especial para os talentosos e estudos
de casos com prodígios e pessoas com dificuldade de aprendizagem; além de
estudos com a criatividade, chegando á conclusão que os seres humanos
desenvolvem as atividades cotidianas.
...”depois
de ter conhecido Jerome Bruner, um pioneiro na pesquisa da cognição e do
desenvolvimento humano, e de ter lido as obras de Bruner e de seu mestre, o
psicólogo suíço Jean Piaget, resolvi fazer pós graduação em psicologia do
desenvolvimento cognitivo." (Gardner, 2005, Portal Educação)
Gardner se considera um psicólogo
cognitivista e confronta a
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Howard Gardner fala que
temos ritmos diferentes de desenvolvimento nas várias inteligências.
No nosso dia-a-dia observamos que existem habilidades e talentos bem
diferentes nas pessoas e que ninguém
é “bom em tudo”.
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proposta psicométrica: que
entende a Inteligência como um fator
geral –
seu principal
representante Alfred Binet. Os
psicometristas entendem que inteligência humana é única e pode ser mensurada
a partir de testes padronizados. Binet criou testes de inteligência que
pretende avaliar percepção, memória, julgamentos estéticos e morais, pensamento lógico e linguagem (compreensão
de frases).
A perspectiva psicométrica
marcou e predominou durante anos a compreensão do conceito de inteligência e
a ainda hoje encontra adeptos a esta concepção.
Contudo, grande parte dos
psicólogos atualmente adere a posição cognitivista que teve como precursor
Jean Piaget, já mencionado neste capítulo. Jean Piaget entendia a
inteligência como um processo em contínuo desenvolvimento qualitativo – a qualidade deste
desenvolvimento deve ser mais importante do que a quantidade. Não devendo ser
avaliada em números e sim em características de evolução da lógica do pensamento.
Gardner comunga com vários
aspectos da teoria piagetiana, principalmente com avaliação qualitativa. E
agrega a esta ideia que nós seres humanos temos várias inteligências: pelo menos
8 potencialidades ou inteligências.
Estas oito inteligências
não são independentes entre si. Para realizarmos a maioria das atividades do
cotidiano, principalmente as mais complexas requerem a combinação de algumas
inteligências. Por exemplo, uma ginasta precisa usar a inteligência corporal
cinestésica, a espacial e lógica matemática, além da interpessoal e
intrapessoal. Para ser uma boa ginasta e atingir seus objetivos ela
necessitará combinar elementos de todas estas inteligências e ainda mais da
inteligência lingüística. Um poeta deve articular as inteligências
lingüística, interpessoal e intrapessoal para tornar sua poesia compreendida
a admirada. Além destas, poderemos analisar em várias habilidades humanas.
As oito inteligências
propostas por Gardner:
1. Inteligência lógico-matemática:
“Confrontar e avaliar
objetos, abstrair e discernir suas relações e princípios subjacentes.” (Gardner 2008, p. 28).
Esta é a inteligência
lógico-matemática. Provavelmente você
deve está se perguntando onde estão os números neste conceito de
inteligência. A habilidade numérica é apenas uma entre outras habilidades matemáticas. E é
considerada uma das inteligências
mais importantes para o ser humano.
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A Inteligência Lingüística encontra-se entre as
Múltiplas inteligências definidas e estudadas por Howard Gardner
O professor de matemática deve oportunizar aos
alunos atividades que viabilizem o
desenvolvimento das diversas habilidades da lógica-
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Gardner define como a
inteligência para explorar relações, categorias e padrões, através da
manipulação de objetos ou símbolos e para experimentar com controle; é a
habilidade para lidar com séries de raciocínios, para reconhecer problemas e
resolvê-los. Destacam-se nesta área, de acordo com ele matemáticos,
cientistas e filósofos.
Como foi mencionada acima,
a maior parte das pessoas relaciona a matemática apenas aos números e
algoritmos. Contudo devemos lembrar que sem a matemática nossa rotina seria
impossível, ela se baseia na matemática.
Para descrever um passeio
que fez com a família, uma pessoa falaria do tempo, do espaço, do
deslocamento, de objetos utilizados, etc. Trata-se de uma atividade que
envolve matemática em vários aspectos, tempo de deslocamento e de
permanência, quilometragem, segurança, categoria dos objetos e lugares
envolvidos no passeio, gastos, entre outros. Mesmo que concretamente não haja
um contato com números e algoritmos, necessariamente será usado raciocínio
lógico com abstração mental para que o passeio seja realizado com sucesso.
Desta forma, devemos atentar
para o fato de que mesmo pessoas que
não têm habilidade numérica podem ter um ótimo raciocínio lógico-matemático.
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Fig.
10 – Não é apenas a eficiência em números a algoritmos (regras matemáticas)
que define a capacidade neste tipo de inteligência.
A habilidade numérica é uma habilidade inteligência
lógico- matemática.
2.
Inteligência Linguística: Gardner
considera fundamental domínio e amor pela linguagem e pelas palavras, com
desejo de explorá-las (Gardner, op.cit.). E que, além disto, a pessoa
compreenda as diferentes funções da linguagem e as diferentes formas de
expressão. Com sensibilidade para sons, ritmos e significados das palavras
poderemos fazer bom uso da
linguagem e assim,
argumentar, diversificar formas de
expressão, convencer, agradar, incentivar ou transmitir idéias.
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matemática
e não se prender só a habilidade numérica.
Os jogos educativos são
excelente caminho para o desenvolvimento da inteligência lógica-matemática.
Exemplo: xadrez, torre de Hanói, Tangram, Dominó, baralho, Pega varetas,
Resta 1, Blocos Lógicos, etc.
Para o desenvolvimento da
inteligência lingüística necessitamos de muitas habilidades lógico-
matemática, como organização, padrão, classificação, correspondência entre
outras.
Não dá para passar um dia sem a matemática. Quando falei um dia já usei
matemática.
|
O professor deve
desenvolver esta inteligência para atingir seu objetivo principal:
transmissão cultural, conhecimento formal, informal, costumes e regras de uma cultura.
Gardner considera esta
inteligência exibida em sua maior intensidade pelos poetas. Não podemos
esquecer os Humorista e Mímicos que
com esta habilidade bastante desenvolvida
‘brincam com a linguagem’.
3. Inteligência Corporal-Cinestésica: Inteligência usada no momento de resolver
problemas, criar e usar o corpo no
espaço. A cinestesia define o sentido do movimento. Assim, usa-se a coordenação fina e ampla nos
movimentos do corpo: nos esportes, arte cênica ou plástica, dança ou em
atividades laborais.
Lembremos em destacar os
super atletas do esporte, como destaques no Vôlei, Fórmula 1, Futebol, que
manipulam o corpo com agilidade e precisão.
4. Inteligência Espacial: Gardner descreve como a capacidade de perceber o
mundo visual e espacial de forma sensível e precisa e assim, encontrar
soluções para possíveis problemas. Utiliza-se a representação mental dos
objetos e a manipulação deles mentalmente criando assim, tensão, equilíbrio e composição.
Destacamos o arquiteto, o
engenheiro, o designer e artesãos. Eles desenvolvem formas de criar soluções
em ambiente: harmonia, aproveitamento de espaço, beleza e criatividade,
deixando assim um ambiente agradável e funcional.
5. Inteligência Musical: observamos a habilidade em apreciar, compor ou
reproduzir uma peça musical. Fundamental: desenvolver a discriminação dos
sons, sensibilidade para ritmos, timbre e harmonia musical.
Atenção! Gardner acredita
que esta inteligência tem uma correlação importante com a inteligência
lógico-matemática, uma auxilia no desenvolvimento da outra, podendo ser um
artifício didático para o professor utilizar. Ritmo e compasso é matemática!
6.
Inteligência
Interpessoal: É fundamental aos professores, vendedores,
psicoterapeutas, jornalistas e para todas as pessoas. Gardner fala da
necessidade em desenvolver
habilidade para compreender o que ocorre
com o outro e seus
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O mímico necessita desenvolver as inteligências
lingüística, corporal- cinestésica, espacial, interpessoal e intrapessoal
para obter sucesso em seu trabalho.
Para a maioria das
atividades diárias necessitamos utilizar a inteligências corporal
cinestésica.
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temperamentos, desejos,
motivações e emoções e saber se organizar frente a estas questões.
7. Inteligência Intrapessoal: É o mesmo que a inteligência interpessoal, só
que interno. Saber compreender, perceber os próprios sentimentos, desejo e
motivações e encontrar a solução dos próprios problemas.
Estas duas inteligências
descritas por Gardner foram muito estudadas por Goleman, lembra? A
inteligência emocional propõe a mesma idéia, só que reunindo as duas em um só
elemento e realçando a importância desta inteligência para o sucesso
profissional e pessoal
8. Inteligência Naturalista: É a capacidade para compreender, apreciar e
propor soluções para as questões que envolvem a natureza, todos os seres
vivos e o universo. Trata-se de uma das mais recentes inteligências estudadas
por Gardner. Ex: ecologistas, gestores ambientais, biólogos...
Gardner considera a forma
primária e a secundária. A primária tem
ao menos o mínimo desenvolvido nas oito inteligências. No entanto,
ninguém consegue ter todas elas super desenvolvidas. A forma secundária
desenvolve-se em algumas inteligências, porém, precisaremos de talento – herdado, motivação e
esforço pessoal. Portanto, é preciso oportunidade e motivação ao aluno para
que seus talentos sejam descobertos e desenvolvidos.
Implicações
educacionais
Um dos desejos de Gardner
é que sua teoria seja utilizada em favor da pedagogia, diversificando a
metodologia e favorecendo avaliações mais eficazes. Ele discorda da pedagogia
que apenas treina a inteligência.
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Fig. 11 –
A música pode ser um excelente estimulador
para a matemática
Gardner continua
pesquisando e desenvolvendo estudos e assim, ampliando sua teoria. Ele fez 60
anos em 2003 e esperamos contar ainda com grandes contribuições para esta
rica proposta Como citamos
continua em pesquisa
as inteligências Naturalistas e
Existencialistas;
além da Pictórica, que foi estuda
por ele junto
com
|
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Pensamento filosófico.
Exemplo de inteligência Existencialista: a mais recente estuda por Gardner.
As inteligências interpessoais e intrapessoais
juntas se assemelham a proposta de Daniel Goleman estudada anteriormente.
Ambas são muito importante para o sucesso pessoal e profissional de todos.
No livro Mente
disciplinada Garder explica como podemos aproveitar bem sua teoria para
favorecer a aprendizagem.
|
uma brasileira Kátia Smole, em sua pesquisa de Doutorado.
2.
CRIATIVIDADE:
Você Se considera uma pessoa criativa? O que o criativo faz diferente
dos demais? Todos nós somos criativos? Podemos desenvolver nossa criatividade?
A criatividade é um
processo cognitivo normalmente muito desejado e valorizado na nossa sociedade
em atividades profissionais, nas artes e no dia-a-dia. O criativo é a pessoa
flexível, versátil, inovadora e potencial de inventividade.
Pensar que podemos ser
criativos em várias situações cotidianas é muito importante para lembrar que
nos pode ser muito útil. Reciclar um material na sala de aula e transformar
uma decoração pode ser econômico e ecologicamente correto. Assim, mudamos a
idéia de que a criatividade só ocorre entre os artistas e grandes inventores.
Toda pessoa tem a capacidade criativa e pode desenvolvê-la sempre.
2.1
nteligência e da
Criatividade:
Davidoff (2001) explica que a Inteligência e a
criatividade baseiam-se em diferentes habilidades:
Pensamento Convergente: raciocinamos de maneira convencional, lógica
dedutiva, para chegar a soluções únicas e corretas para a resolução do
problema. A inteligência requer
esta convergência.
Pensamento Divergente: se afasta dos padrões convencionais e resulta em
mais de uma solução aceitável para o problema. Utilizamos mais o raciocino
indutivo e hipotético. A criatividade é
uma atividade mental inovadora que faz uso do pensamento divergente,
flexível. Sub-habilidades: fluência, flexibilidade e originalidade.
2.2
- Criatividade na escola:
Na matemática, é possível ter um pensamento divergente?
Sim, existem formas
criativas para resolver um problema convencional. Podemos criar novos passos
para resolução.
As metodologias de ensino
estimulam o pensamento divergente ou o convergente? Quais as conseqüências
para o desenvolvimento das crianças e adolescentes?
As metodologias estimulam mais o pensamento
convergente.
|
Favoreça o desenvolvimento
da criatividade nas crianças, pois, ajuda no desenvolvimento da inteligência
e resolução de problemas.
O teatro é um ótimo caminho para estimular a
criatividade de forma interdisciplinar.
Várias
disciplinas podem ser exploradas, entre elas a matemática.
|
Contudo,
ambos devem ser estimulados, pois, caso contrário, perdemos a oportunidade de
desenvolver pensamentos flexíveis.
No próximo
capítulo, continuaremos estudando os processos cognitivos para ampliar o
conhecimento sobre a aprendizagem. Veremos
que aprender pode ser muito mais interessante do que se imagina.
REFERÊNCIAS:
GARDNER, H.
(1994) –
Estruturas da Mente: a teoria das inteligências múltiplas. Artmed.
PINTO, G. C.
(org) (2008) - A Mente do Bebê: o fascinante processo de formação do cérebro e
da personalidade – 2 ed. Revisada e ampliada. São Paulo: Duetto
Editorial
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