sexta-feira, 13 de abril de 2018

COGNIÇÃO AULA 6


COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA
Profa. Maria Ângela Cassundé Portella - IFPE Aula 6
Os jogos matemáticos e o desenvolvimento cognitivo

Introdução:

Caro Aluno,

Neste último capítulo do livro iremos focar nossa atenção a um tipo de atividade que acontece dentro e fora das salas de aula e que favorece de forma consistente e eficiente o aprendizado da matemática.

Depois de estudar os processos cognitivos nos capítulos anteriores, faremos agora uma relação deles com o jogo, refletindo como o ele pode auxiliar no desenvolvimento daqueles processos e assim, viabilizar a aprendizagem, não só na matemática e sim em todos os campos de conhecimentos.

Revisando a conclusão do capítulo anterior vimos que, para que a aprendizagem ocorra vários processos atuam conjuntamente: a percepção, a memória, a linguagem, a inteligência, o pensamento, entre outros. E é isto que ocorre na situação do jogo.

O brincar e a aprendizagem

De acordo com Vygotsky (1991) podem até existir outras atividades que favoreçam mais prazer para a criança, como, por exemplo, chupar o dedo. No entanto, nenhuma outra é mais importante do que a brincadeira, pois, o brinquedo preenche necessidades das crianças e gera o que é motivo para ação.
Fig. 1 Brinquedos diferentes motivam idades diferentes. Alguns motivam várias idades.

Esta ação de brincar de acordo com ele leva a um avanço que está conectado com mudanças acentuadas nas motivações, tendências e




























Todas as crianças têm direito de brincar.
Este pode e deve ser um momento bem proveitoso e com muitas aprendizagens.

 
 

incentivos. Assim, os brinquedos diferentes atendem a idades diferentes, pois, o que satisfaz e interessa a um bebê, pode não mais interessar uma criança mais velha.

O jogo - mais do que uma brincadeira:

Baseados nestas idéias, a maioria dos educadores, atualmente, dão uma grande importância ao momento da brincadeira. Ela é uma atividade muito mais séria do que se imagina. E apesar de algumas vezes não ser prazerosa para a criança, pois, ela também perde no jogo; estas perdas desenvolvem afetivamente e socialmente o jogador.

A energia psicológica vem das emoções e motivações. Na construção do conhecimento, ou seja, na relação básica do sujeito com seu mundo, muitas questões estão ‘em jogo’. Como já estudamos anteriormente é uma combinação de vários elementos, como o ambiente, os aspectos herdados de nossos ancestrais diretos e da espécie, a cultura, os processos cognitivos, a mediação e por fim a energia envolvida no processo o desejo de aprender que vem das emoções e motivações.

Mesmo passando por dificuldades e frustrações na situação da brincadeira a criança tira proveito deste momento sem saber o quanto aquilo é valioso para o seu desenvolvimento biológico, afetivo, cognitivo e social.

São elas as funções dos jogos:

1.      Biológica
2.      Cognitiva
3.      Social
4.      Afetiva

Fig. 2 A percepção deve ser estimulada o mais cedo possível.


Biologicamente o jogo tem a função de favorecer o amadurecimento das estruturas cognitivas que estão em vias de desenvolvimento. Através da


















O jogo é uma brincadeira envolvente e indicada para todas as idades. Todas!

.














A percepção por ser a base da inteligência e da aprendizagem deve ser sempre estimulada. Novas informações são sempre bem vindas para a cognição.

 
 

interação com novas situações cognitivas o cérebro é estimulado e aperfeiçoa suas potencialidades. Novas conexões cerebrais são feitas a cada nova aprendizagem.

Cognitivamente o desenvolvimento ocorre graças aos processos biológicos e intelectuais. Iniciando pela percepção a criança desde cedo tendo a oportunidade de brincar terá contato com objetos de cores, formas, tamanhos, texturas, movimentos e características diferentes.

Quando aprendemos sobre percepção no primeiro capítulo vimos que ela é a base de nossa aprendizagem. Pois, é através da percepção que conhecemos e organizamos as informações que chegam das fontes internas e externas pelos nossos sentidos (sensações), lembra?

Contudo, devemos lembrar que não podemos ‘super estimular’ uma criança para não cansá-la do ponto de vista perceptivo. Muitas informações ao mesmo tempo não levam a um bom efeito perceptivo. Ofereça a uma criança um brinquedo de cada vez ou, no máximo dê a opção de escolha entre dois ou três e após a escolha guarde os não escolhidos para outro momento.

Estimulando a percepção, estamos também favorecemos novos conteúdos que podem ser arquivados na memória. A criança codifica as novas características e assimila novas aprendizagens. A partir daí estamos dando condições de desenvolvimento da inteligência e da criatividade.

Fig. 3 Para resolver um mesmo problema usa-se tipos diferentes de raciocínio

Diante de um novo brinquedo ou jogo, por exemplo, de encaixe como o quebra-cabeça, a criança passará pela situação de resolução de problemas e para conseguir resolvê-lo usará os vários tipos de raciocínio: dedutivo, indutivo e abdutivo ou hipotético.

Portanto, percebe-se que o jogo favorece o desenvolvimento dos vários processos cognitivos ao mesmo tempo. Isto sem contar que existem jogos










O dominó ilustrado, dominó colorido, ajuda na percepção infantil.
Indicador para crianças até 8 anos.














Sugestão: releia sobre os tipos de raciocínio no capítulo 4.

 
 

individuais e jogos coletivos. Ambos, além de favorecer outro aspecto perceptivo, a atenção concentrada, ainda favorecem a organização do pensamento, através da linguagem.

Como psicopedagoga, sugiro sempre que os jogos individuais devam ser muito estimulados pelos educadores, pois, cada criança deve passar pelo momento individual de exercício de concentração, tomada de decisão e de desenvolvimento de suas estratégias de raciocínio. Desenvolve também a persistência diante de pequenos fracassos e dificuldades na resolução de problemas, favorecendo o autocontrole e autoconhecimento. Contudo, não só os jogos individuais devam ser incentivados e sim também os coletivos, que agregam outras funções.

 
Fig. 4 Os jogos individuais e jogos coletivos diferentes benefícios

Os jogos coletivos são fundamentais, pois além de também exercitar a atenção concentrada e todos os outros processos cognitivos, atua na aprendizagem dos fenômenos de grupo, como respeitar a opinião e idéia do companheiro, liderança, tomadas de decisões em grupo, saber ser tolerante e lidar com perdas e frustrações também será fundamental para os aspectos afetivos e sociais.

Os jogos têm importante função no desenvolvimento emocional e por este motivo deve ser oferecido nos diversos contextos educacionais: na escola, na creche, nos lares.

Nas escolas é recomendado que o professor pesquise e se planeje com atividades de jogos entre seus alunos. Um conteúdo trabalhado no jogo pode ser em seguida usado formalmente em diversas matérias. Na disciplina de matemática o jogo pode ser um grande aliado. Um excelente recurso didático que deve ser introduzido no planejamento com o objetivo de problematizar e exercitar os conteúdos ensinados, além de desenvolver os aspectos citados acima nos aspectos biológicos, cognitivos, sociais e afetivos.

Dentro desta idéia, muitas pesquisas estão sendo ou já foram realizadas e























Professor! Utilize o jogo como uma atividade guiada, com objetivos pedagógicos previstos em seu planejamento.

 
 

está confirmado: “um aluno emocionalmente envolvido com o conteúdo aprende mais.” (GENTILE, 2005, p.52)

Brincando as crianças aprendem que podem ser produtivas e operativas sem esperar recompensas ou temer punições. Este é mais um benefício educativo dos jogos, que favorece o desenvolvimento sócio- afetivo. Na  escola devemos criar um clima cooperativo com a atividade dos jogos e não um clima competitivo. A criança passa a entender e sentir o prazer maior em jogar, compartilhar momentos de descoberta e emoções com os amigos, vencer desafios cognitivos e não simplesmente ‘vencer’.

Fig. 5 O educador deve estimular o jogo, em sala de aula, como momento de prazer e aprendizagem e não como simples competição.

Brincando a pessoa expressa necessidades e desenvolve potencialidades. Por este motivo, é uma atividade completa que envolve todas as dimensões do aprender: biológica, cognitiva, social e afetiva.

As pesquisas das neurociências casadas com as da psicologia têm levado a um avanço significativo no que diz respeito à compreensão do comportamento: humano que não se restringe as questões biológicas ou psicológicas e sim a uma interseção de ambas. Mostrando assim, como o comportamento humano é complexo e rico ao mesmo tempo. O jogo é uma das situações que expressa esta complexidade e deve ser exercida em qualquer idade.

Benefícios cognitivos e afetivos dos jogos matemáticos:

Os jogos matemáticos oportunizam criação de estratégias de pensamento e estimulam a flexibilidade do pensamento. No momento que estamos diante de desafios cognitivos propostos espontaneamente na situação de jogo, o indivíduo concentrado em seu objetivo, organiza o raciocínio para criar estratégias eficientes ou exercitar antigas estratégias já vivenciadas. Este momento favorece o desenvolvimento da flexibilidade do pensamento, uma
característica da inteligência muito valorizada na modernidade.




































O xadrez é um jogo milenar que atualmente é muito utilizado na escola e em consultórios, por psicopedagogos, para estimular o desenvolvimento do raciocínio lógico- matemático.

 
 

Os jogos matemáticos motivam seus adeptos. Um bom jogo é considerado aquele que estimula a concentração, persistência e superação do jogador.

A motivação é o combustível para o aprendizado. Sem a motivação não finalizaríamos nenhuma atividade e assim, o momento de aprendizagem seria interrompido e deixaria uma sensação de ineficiência no jogador. Sabemos o quanto é benéfico experimentar a satisfação diante da conquista e incômodo experimentar a frustração diante da desistência. O professor deve incentivar seu aluno frente às dificuldades reconhecendo sua capacidade de realização.

Fig. 6 Desafios cognitivos e construções sócio-afetivas são os maiores benefícios dos jogos matemáticos.

Vivenciar regras, outro excelente aquisição na relação com o jogo. Aprender que a cultura se estabelece a partir de conhecimentos e regras é uma idéia paulatinamente aprendida na situação de jogo.

De acordo com Vygotsky o ser humano é um produto sócio-histórico. Ele é construído e transformado numa relação dialética e com a cultura. Ele transforma e é transformado por ela.

Maluf (2000, p. 2) corrobora com a idéia de Vygotsky quando relata que:

À medida que interage com os objetos e com outras pessoas, construirá relações de conhecimentos à respeito do mundo em que vive. Aos poucos, a escola, a família, em conjunto deverá favorecer uma ação de liberdade para a criança, uma socialização que se dará gradativamente, através das relações que ela irá estabelecer  com seus colegas, professores e outras pessoas.

Na interação com o jogo com outras pessoas a criança e o adolescente terão oportunidade de entender a função das regras na cultura; compreendendo que neste caso a flexibilidade normalmente não é bem vinda.

Contribuição específica de alguns jogos matemáticos:

1. Xadrez:
















































Os jogos educativos são excelente caminho para o desenvolvimento da inteligência lógica-matemática.
Exemplo: xadrez, torre de Hanói, Tangram, Dominó, baralho, Pega varetas, Resta 1, Blocos Lógicos, etc.

 
 

O Xadrez surgiu na Europa na metade do século XV, durante o renascimento e tem seu dia comemorado mundialmente em 19 de novembro. É realizado num tabuleiro xadrez com casas brancas e pretas alternadas e 32 peças também divididas nas cores brancas e pretas. Suas peças são Rei, Rainha, Bispo, Cavalo, Torre, e soldados, mais conhecidos como Peões. O grande objetivo do jogo é derrotar o rei com um cheque- mate. Para tanto, várias estratégias devem ser usadas, pois, cada peça tem uma forma diferente de atuação no jogo.

O Xadrez é para ser jogado em dupla, considerado um dos jogos mais completos em termos de organização cognitiva. É um jogo rico em estratégias de pensamento dirigido e criatividade.

Fig. 7 O Xadrez um jogo que estimula o desenvolvimento do pensamento dirigido.

O jogador de xadrez numa mesma partida usa raciocínio dedutivo, indutivo e hipotético (abdutivo). Ou seja, este jogo requer um refinamento do pensamento convergente, no entanto, não quer dizer que seja um jogo difícil de aprender

Na mesma partida ainda, o jogador pode lançar mão de soluções criativas para conquistar seu objetivo. E assim, na mesma situação usamos o pensamento convergente (inteligência e raciocínio) e o pensamento divergente (criatividade).

Outro grande fruto do jogo de xadrez é mobilizar a atenção concentrada. O jogador necessita pensar em várias peças que andam de forma diferente, vários ângulos, ataque e defesa ao mesmo tempo. Assim, o foco de atenção é bem exercitado.

2. Tangram:

O Tangram é uma antigo quebra-cabeça chinês, com sete peças, 5 triângulos, um quadrado e um trapézio. Com ele, já está comprovado que se pode fazer mais de 1700 arranjos diferentes com as sete peças, resultando em novas formas.

Com o Tangram, um jogo individual, o jogador pode exercitar sua percepção








A Dama também é um excelente jogo de estratégia.




































Alguns jogadores de xadrez levam horas e até dias para finalizarem uma partida

 
 

com combinações diferentes e a atenção concentrada. Pode também desenvolver o raciocínio lógico dedutivo, indutivo e a criatividade, além de aprender sobre raciocínio geométrico e estimular a criatividade.

Fig. 8 O Tangram antigo e versátil quebra-cabeça chinês.


3. Torre de Hanoi:

Um jogo individual que consiste em um quebra-cabeça com uma base com três pinos eretos. E em um deles sete peças de tamanhos em ordem crescente e sobrepostas.

Objetivo: transpor para outro pino a torre na mesma disposição, sendo que não se pode colocar uma peça maior em cima de uma menor e só pode ser transposta uma peça de cada vez.

Aspectos cognitivos desenvolvidos com a Torre de Hanoi: Concentração, ordenação, memória sensorial (aquele que se apaga em segundos), planejamento (resolução de problemas) e raciocínio dedutivo e indutivo.

Na sala de aula pode grandes beneficio para as crianças pequenas com percepção de cores (os discos com cores diferentes), percepção de formas, ordenação por tamanho. Com os mais velhos além de toda estimulação já citada, trabalhar a progressão geométrica.

Fig. 9 A Torre de Hanoi desenvolve soluções estratégicas.

Estes são alguns dos jogos que estimulam o raciocínio matemático. Sugiro conhecer e  usá-los em sala  de aula e  em seus contextos  pessoais.  Além
deles, o: SUDOKU, RESTA 1, DOMINÓ, LUDO, DAMA, BARALHO, UNO





























Progressão geométrica a soma de seus termos equivale a [a * (qn − 1)] / q − 1, onde "a" é o primeiro termo e "q" é a razão.

Já que a razão é 2 e o primeiro termo é 1 temos que [a * (qn − 1)] / q − 1 = [1 * (2n − 1)] / 2 − 1 = 2n
− 1

 
 


entre tantos outros jogos.

E assim, terminamos nossa disciplina, desejando que façam bom proveito do que debatemos e aprendemos juntos.

Um abraço! REFERÊNCIAS:
VYGOTSKY, L. S A Formação Social da Mente. Martins Fontes, São Paulo, (1991)

MALUF, A. C. M Brincar é coisa séria. Vozes, Petrópolis, 2004

CAMPOS       M.   C.       A    importância    do   jogo    na                   aprendizagem. www.psicopedagogia.com.br

wikipedia.org/wiki/Torre_de_Hanoi









































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