COGNIÇÃO E
APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA
Aula 4 –
Processos Cognitivos
Pensamento e Linguagem
Caro Aluno,
Aqui neste
capítulo nos dedicaremos em conhecer melhor dois outros processos cognitivos:
Pensamento e Linguagem. No
capítulo anterior conhecemos sobre a Inteligência a Criatividade, dois
processos que expressam os talentos e habilidades nas diferentes pessoas.
Agora, refletiremos sobre como se estrutura nosso pensamento e os seus tipos,
além de compreender o quanto ele está relacionado diretamente com a
linguagem.
1.
Pensamento:
Aprendemos na
aula passada que o pensamento pode ser convergente ou divergente, que se
traduz na definição da inteligência e da criatividade respectivamente.
Entenderemos a
função do pensamento na nossa vida e na aprendizagem.
Passamos grande
parte de nossas vidas pensando. A
maior parte do tempo que permanecemos acordados, ficamos em alerta a tudo o
que nos acontece, interna e externamente - refletimos sobre o que percebemos
e assim, comparamos, categorizamos, sintetizamos, analisamos e julgamos os
acontecimentos. Até dormindo, muitos cientistas acreditam que pensamos – o sonho seria um tipo de pensamento –
latente. O sonho é a manifestação de um desejo, de uma falta, mas apesar de
ter uma grande carga afetiva é representado através de uma cena.
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Fig.
1 - O pensamento é composto por ações, imagens ou representações.
1.1 - Composição do Pensamento:
O que está na base de um
pensamento?
|
O sonho
é a tentativa de realizar um desejo inconsciente, de acordo com Freud, pai da
psicanálise.
|
De acordo com
alguns pesquisadores o pensamento é composto por imagens, ações ou
representações. Estas idéias irão variar nas diferentes teorias.
Se alguém te
fala de um carro amarelo, naturalmente você irá buscar na memória uma imagem
deste objeto e compreender o pensamento de seu interlocutor. Mesmo que busque
a imagem de cheiros ou sabores; Davidoff relata que pesquisas sugerem que as
pessoas tratam as imagens exatamente como às percepções (interpretações).
Os Comportamentalistas, afirmam que o pensamento é
composto por ações. Ação de
conversar com si próprio. É a proposta menos aceita atualmente.
A idea do
componente da representação é a que recebe mais aliados, pois, sugere que não
utilizamos simplesmente, imagens da memória. Quando por exemplo, penso numa
escola que farei uma visita. Farei uma representação da escola. A
representação é uma forma de apresentar a Idea. No caso, posso usar de outras
representações que tenho de outras escolas que já conheci agregando às
informações que tenho daquela que irei conhecer. Junto com a imagem viriam as
compreensões que temos do que estamos representando.
Encontramos
formas de representar até o que não conhecemos, ou que conhecemos apenas pela
internet ou de ‘ouvir falar’.
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Fig.
2 – Podemos representar a idéia ‘escola’ de várias formas diferentes.
1.2
- Pensamento Dirigido:
O pensamento dirigido pode
ser de dois tipos: Raciocínio e Resolução de Problemas.
Estes processos estão
intimamente relacionados à aprendizagem de forma geral e de maneira especial
á aprendizagem da matemática.
1.2.1 – Raciocínio:
O
raciocino é uma operação lógica mental, que envolve comparações,
representações e abstrações.
|
Segundo Descartes (1596-1650), filósofo de grande importância na
história do pensamento, "a
essência do homem é pensar". “Penso, logo existo”
|
Pensar simbolicamente é um processo que envolve raciocínio,
observação e memória; dada sua complexidade, as crianças pequenas tendem a
misturar objetos reais e seus símbolos logo que percebe que uma coisa pode
representar a outra. (Deloache, 2008, p.46)
No raciocínio
utilizamos várias estratégias mentais para decifrar uma Idea ou responder uma
pergunta interna ou externa. Entre elas vimos que a representação é uma forma
eficiente segundo a maioria dos cientistas. Compreender que uma coisa pode
ser apresentada de várias maneiras é considerado um grande salto cognitivo
que a criança alcança em torno dos dois anos. Entender que posso representar
a idéia CASA escrevendo, falando,
desenhando ou fazendo mímica me dá a capacidade de operar e criar relacionar
e manipular mentalmente as idéias.
Para responder ou organizar algumas idéias às vezes
precisamos apenas buscar informações que estão em nossos arquivos – memória.
Como por exemplo, se alguém pergunta qual a cor de uma arara.
No entanto, em
outras situações nos deparamos com uma maior complexidade de relações entre
os fatos e as ideias:
Toda planta é um ser vivo O Ipê é
uma planta
Logo,
o Ipê é um ser vivo.
Se analisarmos
as relações entre as duas ideias iniciais, veremos que só existe um tipo de
conclusão possível. Desta forma, isto se trata de um Raciocínio Dedutivo.
Simone traz um presente aos
aniversários que é convidada. Amanhã ela irá a um aniversário que foi
convidada.
Logo,
amanhã ele deverá trazer um presente.
Ao analisarmos
estes fatos podemos concluir que nosso pensamento é provável. Contudo, não há
uma certeza. Este se trata de um Raciocínio
Indutivo. Simone poderá esquecer o presente ou ainda quem sabe, não ter
tido tempo ou dinheiro para comprar. Portanto, é possível que traga, mas não
é certo que fará.
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Fig. 3 – Nos
dados apesar de só termos 6 possibilidades temos que contar com a sorte, além
do raciocínio indutivo.
|
A memória é o suporte ao nosso raciocínio.
Busacamos nela informações e articulamos, relacionamos.
|
Afirma-se:
‘O
afeto interfere na qualidade da aprendizagem’.
Sem ainda conhecer
plenamente a efeito deste na aprendizagem:
O cientista
partiria de uma hipótese. Contudo, teria que testá-la, e de acordo com o
resultado aceitá-la ou refutá-la. Isto se trata de um Raciocínio Abdutivo ou raciocínio
hipotético. Que pode se basear em premissas dedutivas ou indutivas,
contudo necessitam ser confirmadas.
Utilização de protótipos ou referências para o
raciocínio:
Como falamos
inicialmente, muitas estratégias são utilizadas para o raciocínio, como
recursos mnemônicos, recursos perceptivos concretos, criatividade e antigas
aprendizagens.
Com o somatório
de aprendizagens as pessoas passam a ter artifícios significativos para
ancorar suas ideias. Servem assim, de um importante referencial semântico
(significado) para dar base ao seu raciocínio. Por exemplo, nos cálculos
matemáticos normalmente as crianças se apóiam
no referencial metade para decomporem os números e efetuarem cálculos mentais
de subtração ou adição.
Outro referencial, também chamado de protótipo por alguns
autores, é a idéia de simetria, facilitando muito o raciocínio nos cálculos
geométricos.
De acordo com
Glass, et al (1979) apud Davidoff (2006) em situações que
temos que tomar uma rápida decisão, usamos a comparação com protótipo. Se
pedirmos a um químico que defina os elementos a serem utilizados em um novo
perfume. Comparará provavelmente com outros protótipos já conhecidos que combinem
com o olfato do perfume.
Contudo, apesar
de serem eficientes estas estratégias as crianças novas pouco utilizam.
Mostrando que é necessária a aprendizagem, adquirida com as experiências em
nosso contexto, apontando assim, para a ideias que o raciocínio também tem
com conteúdo aprendido. Nascemos com uma capacidade que será desenvolvida.
Os professores
devem utilizar ao máximo atividades em que as crianças, adolescentes e
adultos usem esta capacidade e desenvolvam continuamente seu raciocínio, buscando
sempre referenciais de apoio ao raciocínio.
Busca de exemplos:
È uma excelente estratégia
de raciocínio utilizada para comparar e facilitar
|
Os referênciais são ancoras ao nosso pensamento. Dão
segurança ao nosso raciocínio.
|
o raciocínio do outro que você interage.
Professores fazem e devem
continuar a fazer uso de exemplos, pois, ajudam no apoio ao raciocínio do
aprendiz.
No entanto, devemos ter cuidado para que os exemplos não
gerem generalizações rígidas, perdendo assim, a flexibilidade no raciocínio.
Principalmente se a idéia der margem a mais de um tipo de exemplo.
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Fig 4 – Devemos começar a estimular o raciocínio
de crianças, ainda bem pequenas. Assim, tenderá a ser um pensamento
convergente e divergente ao mesmo tempo.
Um raciocínio
flexível tende a utilizar recursos de convergência - inteligente – e de
divergência – criativo
1.2.2.
– Resolução de Problemas:
Você já teve um
problema para resolver? Vários, não é mesmo? Temos problemas simples e
complexos para resolver ao logo de nossa vida. Não só problemas matemáticos.
Mas, também problemas psicológicos, sociais ou de outra ordem. Ninguém de nós
passa um dia se quer sem ter um problema para resolver.
Os problemas
requerem soluções, que normalmente são benéficas e nos trazem recompensas e
satisfação. Trabalhamos sempre para superar obstáculos e chegar um objetivo.
E esta é a energia que nos motiva todos os dias: buscamos sempre uma melhor
qualidade de vida!
Como se resolve um
problema? Cognitivamente, quais são os caminhos?
Os psicólogos
cognitivistas falam que temos quatro etapas na resolução de um problema:
1. Identificação
do problema
2.
Preparação para a
resolução
3. Resolução em si
4.
Avaliação da resolução.
1. Identificação do problema:
Os problemas de acordo com
Davidoff (op. cit) podem aparecer
|
As crianças começam a resolver problemas logo cedo, por exemplo, quando
estão com fome, choram.
|
espontaneamente
ou simplesmente procuramos os problemas. Muitas pessoas até por traço de
personalidade gostam de resolver problemas ou ainda criá-los. É o caso, por
exemplo, de muitos matemáticos que sentem satisfação na proposição e
resolução de problemas matemáticos.
No entanto, o
problema surgindo ou nós buscando devemos inicialmente reconhecê-los como “um
problema” a ser resolvido e como um problema válido, ou seja, que sua
resolução seja de alguma forma significativa para nós ou para alguém. De que
adiantaria um pesquisador dedicar a sua vida a um problema de pesquisa que em
nada contribua para a vida.
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Fig.
5 – É extremamente relevante identificar o problema e este como válido. È
importante para ser resolvido.
Identificar uma
situação como uma situação problema é o primeiro passo para enfrentar a
resolução.
2.
Preparação para a Resolução:
Também chamada
de representação, a preparação é o
momento em que há uma organização por parte de quem deseja resolver o
problema. Neste momento coletam-se informações gerais para como enfrentar o
problema. É quando conhecemos o problema, suas características e estrutura.
Uma representação bem
feita é aquela em o sujeito normalmente leva em consideração quatro elementos
da situação problema:
1.Qual a situação inicial?
2.Qual o objetivo?
3. Quais são os
limites ou restrições do problema
4. Que
possibilidade e operações tenho disponível para resolver o problema?
Dificuldades
na representação do problema:
Alguns obstáculos podem
surgir no momento da representação do problema:
☻Dados confusos e
limitações: Nem sempre um problema é apresentado com todos os dados para
sua resolução. Exemplo: quando pergunto: Que roupa poderá usar logo à noite?
Os dados significativos não foram apresentados. Assim não saberemos se
|
Não podemos resolver um problema se não o consideramos como tal.
|
vai para uma
festa, um casamento, uma palestra, uma aula ou ainda se ficará em casa. Se
disser que ficará em casa, ainda assim podemos pensar se vai receber alguém,
ou se apenas vai dormir. E assim por diante.
Normalmente os problemas matemáticos são apresentados
de forma que o sujeito tenha condições de representá-lo e preparar para a
resolução.
☻Fatores
irrelevantes; Algumas vezes nos fixamos em dados que não são relevantes
para a resolução do problema. Como por exemplo. Preciso fazer uma sobremesa
duas vezes e meia da quantidade que está descrita para servir a 8 pessoas. Se
no momento da resolução considerar a quantidade pessoas em questão posso
desviar a atenção para um aspecto irrelevante do problema e até atrapalhar a
solução.
☻Informações
Incompletas: Outro fator que pode dificultar a representação do problema
são as informações do problema que nos chegam incompletas. Assim, faltam
dados suficientes para a solução daquele problema. Por exemplo, se um
professor fala para um psicólogo escolar que uma criança não aprende como o
restante da turma e diz apenas que é um menino de 9 anos, que falta algumas
aulas e é muito calado. Com estes dados a
psicóloga não terá condições de fazer uma Avaliação Psicopedagógica e
saber o motivo que leva esta criança a não aprender. Ela terá que reunir
outras informações para chegar à solução do
problema.
3.
Solução do Problema:
Para resolver
problemas normalmente nos concentramos em uma determinada tática ou
estratégia e se não obtivermos sucesso faremos uma troca de estratégia:
3.1
Estratégia do
Teste de Geração:
Este tipo de
estratégia é simples. Diante de um problema que pede nomes de animais que
comecem com a letra ‘B’ passará por nossa memória vários animais (macaco,
vaca, abelha, baleia..) que conhecemos e quando a condição – primeira letra
‘B’ – encaixar este nome passará no teste e provavelmente pararemos de testar
outros nomes.
3.2
Análises de
meios e fins:
Quando temos um
problema em maior proporção geralmente subdividimos em partes menores.
Exemplo: A organização de uma festa
– podemos dividir
em equipes responsáveis por tarefas
diferentes. Cada equipe teria um objetivo
específico, sem, contudo,
|
Devemos
considerar inicialmente todos os dados como importantes num problema e depois
podemos descartar os irrelevantes.
Brincamos
muito quando crianças desta brincadeira de geração de palavras. Muito
importante!
|
perder a coesão
com o objetivo geral do problema – o tema da festa. Desta forma teríamos um
grande objetivo para o problema central e subobjetivos para os subproblemas.
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Fig. 6 – Mesmo
na ausência dos elementos do problema podemos imaginar sua solução. Na
maioria das vezes, sim.
3.3
Imaginação:
É uma forma
eficiente de representar o problema e ao mesmo tempo testar as possíveis
soluções. Com o raciocínio abstrato (mentalmente ou invés de concretamente)
podemos imaginar como será a solução de um problema. Algumas pessoas levam
horas, dias a até mais tempo imaginando a solução de um determinado problema.
3.4 Resolução e Insight.
Quando estamos
diante de um problema, reunimos informações necessárias para a sua resolução.
Às vezes temos dificuldade de fazer um elo entre as partes e chegar à solução
do problema. O insight é o momento
que após muita análise encontramos a solução.
Sternberg e
Davidson (1982) apud Davidoff
(2006) em pesquisas encontraram três processos que levam a insight.
3.4.1
Codificação Seletiva:
Quando
percebemos um fato que não é muito óbvio, mas é fundamental para a resolução
do problema. Quando selecionamos informações relevantes no meio de outras
menos relevantes.
3.4.2.
Combinação Seletiva:
Quando
percebemos que podemos combinar elementos que não possuem uma inter-relação
óbvia. Observamos muito esta estratégia nas pessoas que se desprendem um
pouco do pensamento dirigido e parte para o pensamento divergente. –
criativo.
|
Diante de um problema liste suas
condições, facilitará seu raciocínio.
|
3.4.3.
Comparação Seletiva:
É a
possibilidade de detectar relações sutis entre informações novas e antigas.
Ocorre na transferência de aprendizagem. O conhecimento anterior é
fundamental para novas resoluções. Carregamos antigas estratégias bem
sucedidas para novos problemas.
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Fig 8 – Todo nosso
conhecimento acumulado é necessário para novas resoluções.
Fatores significativos envolvidos na resolução de
problemas:
Processos Executivos:
Estudar o problema para
descobrir qual seu real objetivo.
Motivação:
Desafios exigem
perseverança, energia extra para encontrar soluções.
Quando
necessitamos ou desejamos intensamente resolver o problema, ou ainda quando
encontramos significado para aquele fim aumentamos nossa concentração e nossa
capacidade de raciocínio.
Assim como
ansiedade em demasia gera tensão e dificulta o raciocínio.
Incubação:
Algumas vezes
necessitamos incubar aquele problema. Passar um tempo pensando nele antes de
tentarmos resolver. Outras vezes ainda precisamos interromper a resolução,
dar uma pausa para um descanso e voltar.
Contratempos
na resolução:
Transferência
negativa – quando levamos elementos de antigas resoluções que não eficientes
para a nova situação, podendo nos atrapalhar. Podemos deixar de ver o que de
fato é relevante. Podendo levar até a fixação funcional.
Fixação
funcional:
podemos nos fixar
em algum ponto
que
consideramos
relevante e com isto perdemos de enxergar outras possibilidades de novas estratégias eficientes. Perdemos
|
Ter
um pensamento flexível e criativo é fundamental para resolver problemas
inusitados
|
flexibilidade no raciocínio e uma visão mais ampla
do problema.
4. Avaliação da Resolução:
Muitas pessoas
avaliam seu processo de resolução como eficiente ou não, aceitável ou não.
Algumas vezes ocorre durante a própria resolução e outras vezes após resolução
concluída. Desta forma podemos conscientemente ‘guardar’ aquelas estratégias
que consideramos eficientes ou aceitáveis para novas situações semelhantes.
Desta forma, terminamos a aula 2 refletindo como o
professor de matemática deve conhecer o que envolve a resolução de problemas.
O que você acha?
Referências:
DAVIDOFF, L. – Introdução
à Psicologia. Pearson – Makron Books, 2006.
DELOACHE, J. –
Compreensão simbólica entre coisas e símbolos. In a mente do Bebê – Mente e Cérebro. Duetto Editorial. Vol. 3,
p. 46. 2008
|
Sempre que resolver um problema procure
identificar os principais fatores que levaram a solução e guarde estas
informações para resolver futuros problemas.
|
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