sexta-feira, 13 de abril de 2018

MEB - AULA 2


AULA 02 DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO: novos olhares


Objetivos


Geral:

    Reconhecer as formulações psicológicas do desenvolvimento cognitivo.


Específicos:

    Comparar os novos enfoques psicológicos do desenvolvimento cognitivo, comparando-os entre si.
ATENÇÃO

.A psicologia contemporânea tem novos olhares para os sujeitos (REGO, 2009,
p. 5).
Assuntos


    Características do desenvolvimento cognitivo do aprendiz no contexto das diversas ciências.

Introdução


Olá, Estudante!


Os êxitos e os fracassos presentes em nossas escolas são sempre

objetos de explicações. O que varia são as explicações dadas que se

focam nas diferenças entre os estudantes.


Um grupo de professores, gestores e especialistas atribuem a razão

dessas diferenças a fatores endógenos e ambientalistas, isto é,

independentes, por conseguinte, da cultura, dos conhecimentos e das

experiências educativas, das vivências dos estudantes ou da própria

subjetividade do aprendiz. Que argumentos irrigam essas posições?



Vejamos, então, recapitulando nossa aula anterior.

Nos primórdios da psicologia, as teses inatistas ou nativistas, de acordo com as premissas da filosofia racionalista, idealista e apriorística – já estudadas na Aula 1 – postulavam, em resumo, que as capacidades intelectuais de cada ser humano já estariam praticamente prontas no momento do nascimento ou potencialmente definidas, só na dependência do amadurecimento para se manifestarem.

A teoria nativista de percepção, a escola gestaltista, as teses eugenistas e psicométrica, expressas nos trabalhos de um número expressivo de autores (entre eles, J. Muller, E.Herring, J. Von Uexkull,
H.R. Marurama, Mc Dougall, F. Galton, J. M. Cattel, A. Binet, Burt, Jensen e h. Eysenck), são exemplos dessa abordagem (Ver SALVADOR, C.C. e colaboradores, p. 215).

Por seu turno, a tese ambientalista ou behaviorista – também, já estudada na Aula 1 – inspirada na epistemologia empirista e positivista, deu relevo exclusivamente à ação modeladora do meio. Nesta linha de concepção, se destacaram os estudos feitos por Helmholtz, Thondike, Pavlov, Sechenov, Bekterev, Watson e Skinner que ajudaram a fortalecer dessas teses até a metade do século passado (Ver SALVADOR, C.C. e colaboradores, p. 215).
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Todavia, a partir da década de sessenta do século passado, muitas pesquisas foram sendo desenvolvidas nas ciências humanas e, boa parte delas na área da psicologia da educação, refutando os argumentos citados acima e abrindo um leque de possibilidades na




compreensão desse fenômeno humano e epistemológico, na medida em que demonstram de forma clara os limites dessas crenças, calcada na dicotomia clássica indivíduo versus sociedade (REGO, 2009).

Um traço dessa nova tendência investigativa em psicologia é aquele que considera a natureza histórica do desenvolvimento e da constituição da subjetividade dos aprendizes em busca do conhecimento. O foco dessa abordagem são os processos de desenvolvimento e de configuração de singularidades compreendidos como constituídos a partir da articulação de uma grande complexidade de elementos, os quais envolvem fatores e significações ligados aos componentes pessoais, interações e contextos sócio-históricos e culturais.

“O desenvolvimento é entendido como um processo ativo, de apropriação pelo sujeito da experiência histórico-cultural. O sujeito é visto como alguém que transforma e é transformado nas relações produzidas em cada cultura. Assim sendo, nesta visão o aspecto biológico e o social não estão dissociados, predominando um sobre o outro já que ambos exercem influencia sobre o aprendiz (REGO, 2009, p.7)”.

Considerando essas premissas surgem no seio da investigação científica, estudos denominados interacionismo ou sociointeracionismo sob o manto das descobertas de três cognitivistas pioneiros: Jean Piaget (1896-1980), L.S. Vygotski (1896- 1934) e Henry Wallon (1979-1962), já citado anteriormente.




  

Piaget                  Vygotski                 Wallon

Todavia, os psicólogos mencionados que já não vivem em pessoa entre nós, estão presentes em nossa formação acadêmica e nas obras de seus sucessores e pensadores contemporâneos de forma expressiva por terem produzido avanços a partir dos legados recebidos.

Apesar das contribuições desses autores, a escola, vez por outra, se desvia de seus ensinamentos, criando rotas escolares, como algumas medidas avaliativas que redundam em preconceitos e discriminações, por exemplo, a insistência de classificar, por exemplo, as crianças em fracas e fortes.

A esse respeito, Nunes (2004, p.106) esclarece: “Esse princípio (inexistência de critérios ou afrouxamento de critérios de avaliação nas escolas populares – porque não se observa o mesmo fenômeno nas escolas destinadas às camadas economicamente privilegiadas) pressupõe uma imaginária incapacidade das classes populares para o aprendizado, o que, além de não corresponder a nenhuma teoria científica de aprendizagem, legitima o processo histórico de dualidade escolar e de desigualdade social”. E conclui: “Será pelo direito à educação de qualidade e a uma avaliação pautada em princípios pedagógicos, e não em relação de poder, que as camadas populares superarão a barreira do fracasso escolar”.



















SABER MAIS (1896-1980)
Jean Piaget soube tirar ensinamentos das idéias de Binet, Wallon, Janet e Clarerède.                                 Foi também influenciado por alguns filósofos neokantianos, como Brunschwig                e Meyerson e por  alguns
epistemologista                         da matemática.                       Esse cenário dá à sua obra uma originalidade que contrasta       com                               as correntes empiristas e behavioristas dominantes                                na América do Norte.



“No ensino secundário, mais do que no primário, é justamente a matemática o que coloca o aluno em cheque”. [...] “Se o aluno não tem capacidade de compreender as quatro operações, por exemplo, ele não é considerado inteligente”. [...] No entanto, afirma Vergnaud (2003, p 18.), [...] “Quando se fala de adição e subtração, não é verdade que estejam tratando apenas de compreensão elementar complicada, como a questão dos números negativos. Não se trata de uma operação numérica apenas, mas de questões morais. Portanto, os números estão na base da construção de valores”.

Os psicólogos pensadores que apresentaremos aqui, logo a seguir, expressam em seus trabalhos a tensão ainda atual em compreender a relação existente entre ação humana e os contextos históricos, sociais e culturais em que essas ações ocorrem.

Você vai poder observar que eles, embora, tenham projetos de pesquisas diferentes, todos convergem para os temas da subjetividade e da cognição como processos socioculturais. Por conseguinte, a cultura e a educação têm para esses pensadores um papel relevante na formação dos processos psicológicos. Assim, todos estão atentos a educação e preocupados com o fator escolaridade como uma parte importante nesse processo de construção do conhecimento.

Nesta aula serão exploradas as idéias de Gerard Vergnaud e Jerome Bruner, que juntos representam uma nova filiação da psicologia, avançando nas idéias de Piaget (1896-1980), Vygotski (1896-1934) e Wallon.  Os  psicólogos  americanos  Michael  Cole  (1938)  e  James
Wertsch (1940), dessa mesma linhagem, serão apenas citados na


Fonte: PLAISANCE, É.; VERGNAUD, G.
As ciências da Educação. São Paulo: Loyola, 2003, p. 65.








INFORME-SE MAIS (1896-1934)
Lev Vygotski é um psicólogo russo bastante conhecido na União Soviética onde influenciou pesquisadores como Luria e Leontiev.
Morre cedo, aos 37 anos, deixando uma obra em grande parte inédita. Vygotsky formulou críticas aos primeiros trabalhos de Piaget nos quais insistiu pouco como as funções da linguagem e do adulto na transmissão dos conhecimentos e no desenvolvimento cognitivo da criança.
Porem, as obras de Piaget e Vygotski são convergentes e complementares


coluna à direita.



VERGNAUD                   BRUNER

Nessa direção, essa aula está organizada em quatro tópicos. No primeiro, você ter uma visão de algumas premissas que marcaram a ciência psicológica defendida por Vergnaud acerca do desenvolvimento cognitivo e Piaget. No segundo, momento, trataremos dos estudos de Bruner sobre o desenvolvimento como um processo socialmente mediado.

Boa sorte!


I As contribuições de VERGNAUD sobre o desenvolvimento cognitivo a partir de Piaget.


Uma questão fundamental é posta pelo autor da Teoria dos Campos Conceituais:


O que é que se desenvolve e sob que condições cognitivas e socais?


Para Verganud (2003a, p. 22), se tivermos uma perspectiva teórica acerca de organização da atividade, o que se desenvolve são as formas   de  nossa   organização   da  atividade,   isto  é,   a   ação de






































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(VERGNAUD, 2003,
p. 69).

Fonte: PLAISANCE, É.; VERGNAUD, G.
As ciências da Educação. São Paulo: Loyola, 2003, p. 65.











WERTSCH mostra como as narrativas, como instrumentos culturais, sustentam a memória coletiva (BUSTAMANTE, A.L.; MONTIMER, E. F. IN:
Revista Educação: autores e tendências – Pedagogia Contemporânea, 2.
Cultura, aprendizagem e Desenvolvimento.
2009, p. 57)


conhecimento, e não estruturas gerais de pensamento como formulou Piaget (1976).


Daí Vergnaud (1990, p. 135) dizer que a teoria de campos conceituais é [...] uma teoria cognitivista que visa fornecer um quadro coerente e alguns princípios de base para o estudo do desenvolvimento e da aprendizagem de competências complexas, especialmente aquelas que decorrem das ciências e técnicas


Para esclarecer a formulação anterior, explicitamos, a seguir, o sentido dado por Vergnaud ao termo competência, também já mencionado na Aula 1 (1994, p. 178).


A competência é entendida como a capacidade de que o sujeito dispõe para enfrentar e resolver um determinado problema. A maior parte de nossos conhecimentos são competências. Uma parte dessas competências, somente, é explicitável, isto é, conseguimos conhecê- la.


Mas, é preciso uma teoria psicológica e didática direcionada a essa questão para que isso seja mais bem revelado e compreendido. Vergnaud propõe a Teoria dos Campos Conceituais.


Para Verganud (1990), é preciso conceber o processo cognitivo não só como aquele que organiza as atividades e o seu funcionamento em situação – (a conduta, a percepção, a representação e as competências) -, mas também o desenvolvimento das formas





M. COLE

Pesquisador cujas postulações teóricas referem-se, em grande medida, à questão das diferenças culturais no funcionamento cognitivo.















SAIBA MAIS




inteligentes de organização da atividade de uma pessoa durante a sua experiência.


Uma pessoa é competente, portanto, se estiver em condições ou habilitada a enfrentar determinada classe de situações ou classes de situações. Por isso, Vergnaud (1990, p. 56) afirma:

“A teoria dos campos conceituais que eu desenvolvi quer ser uma resposta a essa questão da referência: de fato, fundamentalmente, o que funciona, o que se desenvolve é a conceptualização do real, quer ela seja somente implícita na ação (não vista, não revelada) ou quer ela seja explícita”.


Como vimos, com a teoria dos campos conceituais, Vergnaud (1990) pretende oferecer um referencial ao estudo do desenvolvimento e da aprendizagem de competências, levando em conta os próprios conteúdos do conhecimento, quaisquer que sejam eles (Matemática, Português, História, etc.)


Quando observamos os adultos como também as crianças, é possível constatar que o desenvolvimento abrange vários tipos de atividades como os exemplos a seguir:





·       O    gesto    do    atleta   de    alto    nível   numa      corrida representada na figura a seguir:


O francês Gérard Verganud, 78 anos, foi diretor do Centro Nacional de Pesquisa Cientifica de Paris, fala orgulhosamente de sua oriegem: tive “um pai analfabeto e uma mãe que se aposentou                             como empregada domética”. Filho de uma família de três filhos, foi escolhido                               para receber uma bosade estudos. O encontro com Piaget, com quem estudo em Paris e Genebra deu-lhe uma direção em sua vida, caminhando pela psicologia, filosofia, pela matemática e didatica                                                             da
matemática. A toeria dos                         campos conceituais foi sua grande contribuição à Psicologia Cogntiva e à Didática da Matemática.



Fonte: atleta-thumb 200980.ipg



·       O gesto dos artesãos expressos numa obra de arte como vemos abaixo:

Fonte: overmundo.com.br

·       As competências científicas e técnicas como podem vistas na ilustração a seguir:

Fonte:overmundo.com.br




Na observação de crianças e de adultos, Vergnaud (2003a) constata que o desenvolvimento abrange vários tipos de esquemas e os esquemas, abrangem competências sensório-motoras complexas, como a habilidade de um piloto de fórmula 1 que é capaz de abordar uma curva em alta velocidade, destaca Da Rocha Falcao (2003, p. 37).



Carro de corrida





Essa competência agrega também competências matemáticas como à contagem e a resolução de equações algébricas, passando por competências socioculturais, como a habilidade do jangadeiro nordestino em conduzir sua jangada a vela (DA ROCHA FALCAO, 2003, p. 37).















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Jangada à vela sendo conduzida ao mar


Inclui também esquemas fonográficos que permitem associar pronúncias às formas escritas, reconhecimento e compreensão das palavras e dos morfemas, enunciados e textos (VERGNAUD, 2003, p.36).
No que se refere à compreensão de textos, percebe-se que há aspectos sintáticos, lexicais, de compreensão e de organização de texto que dizem respeito a competências distintas, complementares, mas que devem ser consideradas em suas especialidades. Vejamos um exemplo:


Goigoux & Vergnaud (2005) descrevem, os esquemas profissionais, adotados por professores no âmbito da didática, de ajuda à criança na localização de fonemas. Os autores observaram uma atividade de uma professora experiente durante uma seqüência de ensino de correspondência grafema – fonema, realizada no primeiro trimestre de CP (alfabetização), na França. No início da seqüência, a professora traça no quadro-negro segmentos em linha reta para representar palavras orais incluindo o fonema [u]. Um aluno, chamado ao quadro, não consegue localizar esse fonema na palavra [ãRule] (enroulé). A professora pede ao aluno para repetir devagar




enroulé, depois de segmentá-la em sílabas. Ela desenha três arcos de ciclos horizontais no segmento representando a palavra, repete essa palavra, acentuando a segmentação silábica e prolongando os três sons vocálicos. A seguir, estimula o aluno a identificar os arcos sucessivos, ordenados da esquerda para a direita, à medida que ela pronuncia as sílabas. Depois, ela interroga: Em qual sílaba se escuta o som [u]?; quando se diz [ã]?, [Ru]? [le]? O aluno responde: Quando se diz [Ru]. Ela valida a resposta do aluno e lhe pergunta em qual posição se encontra essa sílaba [Ru]. É a segunda, responde ele. A professora centra, então, a atenção do aluno na segunda sílaba, repete-a e pergunta se ele escutou o som [u] no início ou no fim dessa sílaba. O aluno repete a sílaba, acentuando o fonema [u], e declara: no fim. A professora valida a resposta e pede para o aluno representar graficamente a solução traçando um ponto na parte direita do segundo arco.


Em resumo, a professora fraciona a tarefa em duas subtarefas e orienta a atividade do aluno. Ela o conduz, de início, a repetir a sílaba que contém o fonema; em seguida, a localizar esse último na sílaba, fazendo-o operar uma distinção entre ataque e rima. A eficácia de sua ajuda reside na decomposição das operações implicadas na efetivação da tarefa, ao mesmo tempo de sua verbalização, de sua realização e na sua representação gráfica das unidades manipuladas.


O SENTIDO QUE VERGNAUD DÁ AO DESENVOLVIMENTO NÃO É O MESMO DADO POR PIAGET.


A Teoria do desenvolvimento em Piaget busca caracterizar os




estágios na criança. Piaget pesquisou muito esse assunto. Na figura 1 a seguir, pode-se ver o que Vergnaud chama de ordem total da representação do desenvolvimento piagetiano.



Figura 1 - Representação gráfica dos estágios de desenvolvimento de ordem total dado por Piaget.

Quando Vergnaud estuda as competências em conjunto, encontra determinada ordem parcial: há competências que são lineares e outras que realmente se cruzam entre si. A figura 2 ilustra essa abordagem analítica do desenvolvimento e abandona o sequênciamento rigoroso piagetiano.



Figura 2


Vejamos então: [...] se o modelo dos estágios totalmente ordenados, caracterizados pelas estruturas lógicas muito gerais, é hoje superado,




esta não é uma razão para renunciar a descrever e analisar a estrutura de ordem parcial das competências e das concepções das crianças, e a marcar as filiações e as rupturas (VERGNAUD, 1987, p. 3).


A análise de competências das crianças e dos adultos, no sentido dado por Vergnaud (2003a), pretende abarcar todos os registros da atividade do sujeito, enquanto a lógica, tão importante para Piaget (1976), é somente um dos domínios dessa atividade.


Por outro lado, se existem regularidades no desenvolvimento, e estas existem em quantidade, declara Vergnaud (1987), é necessário ter outros referenciais teóricos para investigá-las. É a esse problema que a teoria dos campos conceituais pretende responder.


Para Vergnaud (1987), o que sabemos do desenvolvimento e da aprendizagem de conhecimentos impele-nos a rejeitar o simplismo de determinados estudos e modelos que usam a dicotomia inexperiente/experiente (alunos fracos e alunos fortes). Essa dicotomia reduz a algumas etapas um processo que compreende a formação de um grande número de competências e de conceitos distintos e cuja construção ou apropriação se sucedem durante um longo período de tempo.


·       O papel da didática e a contribuição de Vergnaud ao conceito de desenvolvimento.




O papel atribuído às situações no desenvolvimento das competências nos leva a compreender o espaço didático dessa teoria. Ao explicar os objetivos de sua teoria, Vergnaud (1990) propõe que ela seja a base para a explicação dos fenômenos de desenvolvimento e de aprendizagem. Considerando que a teoria dos campos conceituais oferece um quadro para a aprendizagem, ela interessa à didática; mas ela não é só uma teoria didática. Sua principal finalidade é fornecer um quadro teórico que permite compreender as filiações e as rupturas entre os conhecimentos, entre as crianças e os adolescentes, aqui entendendo por conhecimento tanto o saber-fazer como os saberes-expressos - possível de serem vistos - (VERGNAUD, 1990).


Podemos, então, dizer que o conceito de situação não é novo, uma vez que ele apareceu com as pesquisas em didática, graças às idéias de Brouseau (1998), que lhe deu várias distinções para pensar as situações de aprendizagem e de ensino. No sentido dado pelo psicólogo francês, tal conceito tem sua essência explicitada no seio das três teorias que compõem a teoria de campos conceituais. Já o processo psicológico de conceptualização implica o aspecto da representação, pouco ou não consciente, como determinante para a compreensão de como o sujeito constrói sempre, durante a atividade, suas competências.

II - AS CONTRIBUIÇÕES DE BRUNER SOBRE O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO ALÉM PIAGET.

BRUNER dedicou seus estudos durante toda vida à investigação psicológica e ao ensino. Uma preocupação permanente observada na




obra de BRUNER é com a condução do processo ensino- aprendizagem, que sob sua ótica deve ser fundamentada em investigações, preferencialmente, levada a cabo por uma equipe formada por psicólogos e educadores. Defendeu na psicologia, a mente como objeto primordial de pesquisa, considerando esse o objeto por excelência da psicologia.


Em 1940, já em Harvard estudou sobre a percepção como contribuição de oposição ao behaviorismo, uma vez que atribuiu uma subjetividade à percepção, o que não ocorria com a posição dos empiristas.

Um dos primeiros experimentos feitos por BRUNER foi sob a influência do campo subjetivo quando realizou pesquisa com crianças de níveis socioeconômicos diferentes ao avaliar o tamanho de figuras apresentadas com moedas. As crianças de menor poder aquisitivo acharam-nas maiores que as demais crianças.

Em 1950, esse psicólogo começa a se interessar pela pesquisa cognitiva na formação de conceitos, juntamente com Miller, Newell e Simon (MOREIRA, 1999), seus colegas de investigação nessa área de conhecimento. Foi então ao encontro de Piaget que influenciou sua visão de desenvolvimento psicológico como um processo evolutivo de representação do mundo. A partir daí desenvolveu intenso intercâmbio com pesquisadores envolvidos com os estudos na área da educação para formular um novo currículo em ciências e matemática para o ensino básico, coordenado pela Academia Nacional de Ciências em Massachusetts, EUA.




Na Inglaterra, BRUNER envolveu-se ativamente com a pesquisa sobre desenvolvimento infantil, ressaltando o papel da linguagem nesse processo, indo assim ao encontro de Vygotski, para estudá-lo intensamente para apresentar ao público norte-americano a obra clássica Pensamento e Linguagem do psicólogo bielorusso.

Ao lado de Luria e Leotiev, psicólogos também russos, BRUNER reafirmou sua crença na importância da dimensão cultural na formação do psiquismo humano, particularmente, quando desenvolveu estudos sobre o self (eu), a narrativa e a psicologia do senso comum.


A sua concepção de desenvolvimento, e como ele se processa é influenciada por Vygotski, pois embora BRUNER tenha recebido influencia de Piaget em seu pensamento, considerava a teoria piagetiana mais focada em desvendar o desenvolvimento humano do que no funcionamento do psiquismo. Nessa direção, a concepção de Vygotski de funcionamento psicológico como moldado pela cultura atende melhor a concepção de desenvolvimento de BRUNER, ou seja, no caso, a evolução na forma de representar a experiência, que ocorrem em níveis progressivos de abstração.

A cultura, em conseqüência de sua importância no processo de desenvolvimento, é, coerentemente, uma das dimensões mais importantes na educação na obra de BRUNER. Já mesmo em suas primeiras reflexões sobre o ensino e técnicas instrucionais, no caso de demonstração ou instrução verbal, essas são analisadas em relação à sua cultura, por meio da comparação com grupos como os caçadores-coletores (experiência de caça primitiva) que usam


Saiba Mais

Jerome          BRUNER nasceu em Nova York em 1915. Formou-se em psicologia aos 22 anos de idade pela Duke    University                  do estado de Carolina do Norte.                 Em                  Harvard, concluiu precocemente                   seus estudos               de    pós- graduação,                  onde
concluiu                                 seu doutorado   em   1941.
Fundou em 1945, como docente, em Harvard o Center for Cognitive Studies com George                            Miller. Trabalhou em Harvard até o ano de 1970 quando foi convidado a          ensinar        na
Universidade                                   de Oxford por um certo período. Em 1980, já estava de volta aos EUA para trabalhar na New York University a fim de dirigir o Instituto de Humanidades dessa universidade onde até hoje permanece. Tem 95 anos.


majoritariamente a demonstração para ensinar enquanto que a sociedade contemporânea usa a instrução verbal.
Caçadores coletores de cultura primitva

Nesse caso, as técnicas expositivas seriam mais limitadas que a demonstração em termo de contextualização, obviamente, mais cultural. Para BRUNER, o ensino deve estimular o pensamento do aluno na escola, o que pode ser feito, em primeiro lugar, pela adaptação da forma de apresentação do conteúdo ao nível de representação do aprendiz.


Demonstração de uma atividade


O modo, porém, mais importante de estimular o pensamento em sala de aula é como o professor atua, problematizando, aproveitando situações em que questões possam ser colocadas, sem fornecer respostas que levem os aprendizes à acomodação. Exemplo de uma situação:



No automóvel de Nei tem lugar para 5 pessoas. O lugar do motorista












SAIBA MAIS


O ensino de tópicos ou habilidades específicas, descontextualizados de sua aplicação, ou inserção no campo mais amplo de conhecimento dificulta a generalização (BRUNER)
é sempre ocupado por ele, e os outros lugares ele usa para
transportar seus amigos. Hoje, por exemplo, ele vai transportar 18
amigos de sua casa até o estádio de futebol. Quantas viagens, no
mínimo, ele terá de fazer para transportar os 18 amigos em seu
automóvel se ele não ultrapassar a lotação máxima de seu carro?
(PCN em AÇÃO, primeiro e segundo ciclos, 2001, p.113)

A proposta de BRUNER para promover a problematização seria a
descoberta. Essa sua idéia se forma a partir da critica feita ao modo
expositivo de ensino, analisando o controle que o aprendiz tem da
trajetória   de   pensamento   desenvolvido  pelo   professor   quando
apresentam definições, explicitando relações, argumentação e outras,
A importância da motivação do aprendiz nessas duas situações de
aprendizagem é distinta e diferente. Consideravelmente diferente
para BRUNER em importância e intensidade.

Recentemente,    BRUNER         incluiu   outros    elementos    à    sua
argumentação a favor de um ensino centrado na atividade do aluno,
admitindo que os debates educacionais têm evitado questões
fundamentais como aquelas que se voltam para refletir os problemas
gerados pela avaliação. Nessa direção, sugere que o ensino deve
incentivar a cooperação, além do sentido de reflexão e significados
da aprendizagem.

Assim, as disciplinas ligadas às ciências sociais deveriam ensinar o
que chama de três grandes Pés: o Presente, o Passado e o Possível.
O ensino das ciências naturais, pelo seu tipo de explicação, causal e
verificável, tem sido mais valorizado do que o de base interpretativa


das ciências naturais. Mas, a explicação interpretativa pode não


apenas enriquecer a mente, mas também ser uma ferramenta

preciosa de aprendizagem sobre o mundo e sobre nós mesmos.


BRUNER toma o cuidado de incentivar no processo de ensino e

aprendizagem a produção de obras, cuja finalidade é exteriorizar o

conhecimento construído, como as culturas o fazem por meio de suas

instituições, como a arte, o que fortalece o sentido de identidade e

orgulho ao grupo.Vejamos uma situação didática:


Observem bem a reprodução da imagem do quadro de Guernica, do

pintor Pablo Picasso e respondam:




SAIBA MAIS

É preciso substituir a concepção empirista da aprendizagem pela mente ativa, que constrói significados (BRUNER, in: REGO, 2009, p.22).
As pessoas e os animais parecem estar em movimento? Como o

autor expressa movimento?Uma das figuras humanas está numa

posição corporal bem distinta das demais: pode-se localizá-la? (PCN

em AÇÃO, primeiro e segundo ciclos, 2001, p.115).

Por fim, podemos dizer que em toda a obra de BRUNER o aluno é

peça fundamental que pode se desenvolver cognitivamente com a

atuação eficaz da escola/cultura, cuja finalidade é torná-lo um ser

autônomo e ativamente atuante em seu contexto de vida.









Atividades

1.     Estabeleça a diferença básica entre a concepção de desenvolvimento cognitivo concebido por Piaget e a formulada por Vergnaud.

Resposta: A teoria de desenvolvimento piagetiano, baseado nas operações lógico-matemáticas, via os estágios numa sequência rígida de estágio de ordem total, escalada. Vergnaud estudou as competências em conjunto e descobriu que elas poderiam se desenvolver parcialmente ou totalmente, afastando-se de uma sequência rigorosa, e, vendo os fenômenos de forma analítica.


2.     Que traço distingue a perspectiva de desenvolvimento cognitiva defendida por Bruner da concepção de desenvolvimento piagetiano?
Resposta: o impacto da cultura na conduta do homem fez Bruner se aproximar de Vygotski, valorizando a linguagem e a cultura como




faziam os psicólogos russos (Luria e Leontiev) e se afastar de Piaget pesquisava o desenvolvimento cognitivo com base nas operações lógico-matemáticas.

RESUMO

·       Pensamento de Vergnaud sobre o Desenvolvimento Cognitivo comparado com a formulação piagetiana de desenvolvimento.
·       O impacto da cultura na concepção psicológica de desenvolvimento de Bruner.

Referência

BROUSSEAU, G. Introdução ao estudo das situações didáticas: conteúdo e método de ensino. São Paulo: Ática, 2008.

BRUNER, J. A cultura da Educação. Trad. Porto Alegre: ARTMED, 2001.

DA ROCHA FALCÃO, J.T. Psicologia da educação matemática: uma introdução. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. p.15-45. (Tendência em educação matemática, 8).


GROSSI, E. P. Por que ainda há quem não aprende? Rio de Janeiro: Vozes, 2003.

GOIGOUX, R; VERGNAUD, G. Schèmes professionnels. In: BERNIÉ, J. P.; GOIGOUX, R. (Eds.). Dossier: les gestes professionnels. La letrres de L´AiRDF. Paris, n.36, p. 7-10, 2005.



MOREIRA, M.A. Teorias de Aprendizagem. São Paulo: E.P.U. 1999.


LIMA, M.A. Matos de Figueiredo Lima. Relação entre formas espontâneas de comunicação e o desempenho ortográfico de crianças: um estudo com o dispositivo didático “jogo de comunicação




por telefone”. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação do centro de Educação da UFPE. 2007.

PLAISANCE, E.; VERGNAUD, G. As Ciências da Educação. São Paulo: Loyola, 2001.

Revista Educação: autores e tendências – Pedagogia Contemporânea, 2. Cultura, aprendizagem e Desenvolvimento. 2009.
BROUSSEAU, G. Introdução ao estudo das situações didáticas: conteúdo e método de ensino. São Paulo: Ática, 2008.


VERGNAUD, G. Concepts et schèmes dans une théorie opératoire de la représentation. Psychologie Française, v. 30, n. 34, Paris, p. 245-252, 1985.
                   La théorie des champs conceptuels. Recherches en didactique des mathématiques, Paris, v. 10, n. 2. 3, p. 133-170, 1990.
           . A gênese dos campos conceituais. In: GROSSI, E. P. (Org.). Por que ainda há quem não aprende? 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003a. p. 21-60.















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Extrato do texto, Imagens do conhecimento e ação docente no Ensino Superior Nílson José Machado (USP - Faculdade de Educação), (pag. 13 a 20, 2008).
Conhecimento: imagens tácitas

1.    Imagens tácitas
Existem muitas imagens para representar o processo de construção do conhecimento. Conhecer é como encher um balde de matéria, ou como construir um cuidadoso encadeamento, de temas, ou como tecer uma teia de significações, ou como fazer emergir como a ponta de um iceberg algo que já existe dentro de nós, ou ... tudo isso junto? Como se manifestam tais imagens, no dia-a dia, na sala de aula? Qual a importância de conhecê-las, de explorálas? Existe uma imagem que seja a “correta” no sentido de descrever adequada e completamente os processos cognitivos? Qual seria ela?
No que se segue, tais questões serão examinadas, buscando-se respostas para as mesmas que possam instrumentar o trabalho do professor. O fato é que cada uma de tais imagens está associada a ações docentes bastante características. É significativamente distinta a ação de planejar quando é inspirada pela idéia encadeamento lógico ou pela idéia de tecer uma rede. Ou a ação de avaliar quando é orientada pela imagem do enchimento do balde, ou da emergência do iceberg. Ocorre ainda que certas práticas, absolutamente consentâneas com determinadas imagens, são francamente incompatíveis com outras. Ao deixar-se orientar, portanto, por certa imagem, é importante para o professor adequar suas práticas, de modo a não mergulhar em um mar de incongruências. O grande complicador na busca de tal sintonia é o fato de que tais imagens operam tacitamente, subrepticiamente. Pouco se fala delas, mas elas subjazem e agem efetivamente, organizando as práticas, inspirando modos de atuação. Buscar uma explicitação do modo como agem tais imagens é nosso objetivo. 

2.    O balde
Comecemos pela imagem do balde. Explicitamente, ao que tudo indica, não existem mais professores que imaginam os alunos como se fossem baldes vazios a serem preenchidos com a matéria que recebem na escola. Trata-se de uma imagem tosca, completamente ofuscada pelos sofisticados construtivismos de diferentes matizes. Mas disfarçadamente no discurso, e escancaradamente em algumas práticas docentes, o “baldismo” subjaz. Ele está presente, por exemplo, quando se fala em “nível do aluno”, ou em “nível do conhecimento”, ou em “conhecimento acumulado”, ou em outras expressões menos diretas. Ele permanece ativo quando se identifica um processo de avaliação como um processo de medida: a nota seria como o indicador em uma vareta inserida no líquido/matéria contido no recipiente/aluno. Ou nos planejamentos que se reduzem a contabilizar o número de aulas dedicadas a cada assunto, como se se estivesse regulando a vazão da torneira que enche o balde/aluno de matéria. É, o balde não existe, mas está em toda parte. 

3.    A cadeia
Consideremos agora a imagem do conhecimento como um encadeamento, ou do conhecer como encadear. A cadeia está associada diretamente ao pensamento cartesiano, tendo, em sua origem, o fundamental livro Discurso do Método, de Descartes (1647). Para Descartes, o conhecimento somente poderia ser construído a partir de “idéias claras e distintas”. Assim, diante de uma grande dificuldade, em termos cognitivos, o caminho era um só: subdividir a tarefa, decompô-la em partes suficientemente pequenas para serem apreendidas com clareza, e então, enumerar tais fragmentos, reconstruindo o objeto por meio de um encadeamento lógico linear. Tal encadeamento constituiria, portanto, a ordem necessária para “bem conduzir a razão” (o título completo do livro de Descartes é Discurso do Método para bem conduzir a razão e descobrir a verdade nas ciências). Algumas das principais palavras de ordem que predominam na organização do trabalho escolar nos diversos níveis de ensino até hoje são tributárias das máximas cartesianas. “Pré-requisitos” e “seriação” são apenas dois dos exemplos mais notáveis. Segundo tal perspectiva, além de pontos de partida necessários, existem temas que precisam ser estudados necessariamente antes de outros, não podendo ser quebrada a cadeia lógica da apresentação dos diversos conteúdos. Existiriam assuntos que deveriam ser ensinados, digamos, na sexta série; se não o forem, quebra-se o encadeamento e o aluno precisa ser retido em sua progressão. Naturalmente, qualquer narrativa pressupõe um encadeamento, mas as pressuposições cartesianas exacerbam tal necessidade. E foram tão bem sucedidas no âmbito do conhecimento, que terminaram por ser “exportadas” para o universo do trabalho, constituindo a idéia central que subjaz à organização das linhas de montagem dos automóveis, por exemplo. Com certo exagero mas sem fugir à verdade, seria possível afirmar-se que a forma de organização de muitas escolas, ainda hoje, assemelha-se à estruturação das linhas de montagem.

4.    A rede
Uma outra perspectiva é a propiciada pela imagem da rede como representação do conhecimento. Segundo tal ponto de vista, o conhecimento é como uma grande teia, uma grande rede de significações. Os nós são os conceitos, as noções, as idéias, os significados; os fios que compõem os nós são as relações que estabelecemos entre algo, ou um significado que se constrói e o resto do mundo. Iniciar essa teia não constitui – nunca constituiu – um problema escolar: todos os alunos já chegam à escola com uma proto-teia de significações, engendrada pelo domínio da língua em sua forma oral. À escola cabe ampliar, desenvolver mais acuradamente aqui e ali, enriquecer as relações percebidas, nunca iniciar do zero a construção das significações. Nos processos de ensino, para percorrer essa teia, temos que encadear significações, temos que alinhavar percursos. Cada curso que se organiza constitui um percurso sobre uma teia de significações. Mas não existem encadeamentos únicos, percursos absolutamente necessários, sendo sempre possível arquitetar uma grande diversidade de caminhos para articular dois nós/significações. Além disso, essa imensa teia que serve de imagem para o conhecimento é absolutamente acentrada: o conhecimento não tem centro, como não o tem a cultura, de uma maneira geral; o que existem são centros de interesse. Assim, é possível planejar o tratamento de determinado tema de muitas formas distintas, dependendo do feixe de relações que são vivenciadas, que são percebidas em determinado contexto. E o significado da avaliação também resulta bastante distinto, em relação às pressuposições cartesianas de encadeamento.

5.    O iceberg
Uma quarta imagem para compor o cenário é a do conhecimento como um iceberg. Nesse caso, a idéia norteadora é a de que nosso conhecimento sobre qualquer tema é sempre apenas parcialmente explícito, ou passível de explicitação, sendo, em sua maior parte, tácito, subjazendo como a parte submersa de um iceberg. Cada um de nós sempre sabe muito mais, sobre qualquer assunto, do que aquilo que consegue explicitar, expressar em palavras. Os mecanismos da percepção são muito mais ricos e complexos do que imagina as simplificadas teorias baseadas em associações do tipo estímulo/resposta. Também como docentes, sempre ensinamos muito mais do que pretendemos explicitamente, para o bem e para o mal, servindo tacitamente de exemplo ou de contra-sexemplo. A parte submersa do conhecimento de que dispomos, que aprendemos ou que ensinamos é, no entanto, absolutamente fundamental para a sustentação do que conseguimos explicitar. A educação escolar formal seria sempre orientada pela busca de uma ampliação na capacidade de explicitação. Um adulto não escolarizado sabe muitas coisas, mas busca na escola o desenvolvimento de tal capacidade. Como seres humanos, nosso conhecimento pessoal sempre estaria representado por esses dois domínios fundamentais: o tácito e o explícito. Articulá-los, arquitetando estratégias de emergência do tácito, seria a função precípua do trabalho escolar. Mas sabemos que nunca será possível explicitar tudo o que se conhece. Assim como em cada pessoa convivem e articulam-se as dimensões consciente e inconsciente, também estamos “condenados” a um permanente ir e vir entre o que se sabe tacitamente, o que se incorporou por meio de vivências, hábitos ou estratégias culturais e o conhecimento de que precisamos dar “provas” explícitas, nos processos de avaliação. 

6.    Os cegos e o elefante
Representadas essas quatro imagens no cenário epistemológico – balde, cadeia, rede, iceberg - qual seria a imagem mais correta, mais adequada para caracterizar os processos cognitivos? Qual deveria ser a escolha do professor para mais bem orientar sua prática como docente? A resposta é muito simples: tais questões não fazem o menor sentido. Há uma história muito conhecida, onde seis cegos que encontram um elefante tentam descrevê-lo, cada um recorrendo a uma imagem particular. Um deles, passando as mãos no corpo do elefante, imagina-o como uma grande parede; outro, abraçando uma de suas patas, associa-o ao tronco de uma árvore; outro, alisando suas presas, compara-o a uma espada; um outro, ainda, ao segurar o rabo do elefante, imagina-o como uma corda... Cada um projeta uma perspectiva, a partir da percepção imediata pelos sentidos. E a pergunta “qual dos seis tem razão?“ não tem, evidentemente, o menor sentido. Qualquer um que jure ser um elefante exatamente como uma parede estará delirando. Como estará também quem garantir que um elefante é um tronco de árvore. Para construir uma imagem do elefante precisamos compor as diversas perspectivas que emanam das percepções particulares de cada um dos cegos. Diante das imagens do conhecimento, sentimos algo parecido. Cada imagem propicia uma perspectiva, uma “visão” parcial do elefante/conhecimento. Se nosso interesse é conhecer o conhecimento, ou conhecer como se conhece, tal como os seis cegos, devemos compor imagens. Há um sentido em que conhecer é acumular. Não começamos do zero, todos os dias. Mas a idéia de acumulação é claramente insuficiente para caracterizar o conhecimento. Em certo sentido, poderíamos inclusive afirmar que para conhecer, precisamos aprender a esquecer. Quem guarda absolutamente tudo, termina por perder a capacidade de se ater ao que é fundamental, por tornar-se incapaz de abstrair, de pensar, e por conseguinte, de conhecer. Há um outro sentido em que conhecer é encadear. Sem dúvida, qualquer narrativa pressupõe, como já foi dito, um encadeamento. Mas existe uma liberdade imensa nessa organização linear, e a organização da escola freqüentemente explora muito pouco essa possibilidade de múltiplos percursos na exploração da teia de significações. Há, naturalmente, o fato de que conhecer é como tecer, enredar, articular por meio de relações temas aparentemente desconectados. E há a dimensão tácita do conhecimento, que é imprescindível para a caracterização do mesmo, uma vez que nada parece mais visível de que o fato de conhecermos muito mais do que conseguimos expressar. O próprio fato de que imagens do conhecimento como as quatro anteriormente referidas orientam as ações docentes, influenciam a organização da escola, ainda que pouco falemos delas, ainda que elas operem tacitamente, é altamente revelador da relevância da dimensão tácita do conhecimento. Pois é, diante do conhecimento, somos como os seis cegos.






FÓRUM AVALIATIVO – AULA 02. REFERENTE A SEMANA 02. Enviar esse arquivo.
Resolver a Questão a seguir:
No texto das aulas 01 e 02 de MEB, são estudadas algumas concepções em matemática que são representadas por figuras segundo os teóricos Nilson Machado, Piaget e Vergnaud. Observe abaixo quatro figuras que revelam concepções sobre o conhecimento e como este se desenvolve.
Figura 1 
           Figura 4                                             

Figura 2
                                                                                                                                  


                            Figura 3
Associe abaixo a letra da coluna à esquerda (A, B, C e D) que relaciona uma das figuras acima com os números na coluna da direita (1; 2; 3 e 4) que explicam cada uma das figuras acima.
(A) Figura 1
(segmento de reta com quatro pontos)
(1)  Representa a concepção que considera o aluno disfarçadamente no discurso, e escancaradamente em algumas práticas docentes, o “baldismo” subjaz. Esta concepção está presente, por exemplo, quando se fala em “nível do aluno”, ou em “nível do conhecimento”, ou em “conhecimento acumulado”, ou em outras expressões menos diretas. O “baldismo” permanece ativo quando se identifica um processo de avaliação como um processo de medida: a nota seria como o indicador em uma vareta inserida no líquido/matéria contido no recipiente/aluno.
(B) Figura 2
(cabeça vazia)
(2)  Quando Vergnaud estuda as competências em conjunto, encontra determinada ordem parcial: há competências que são lineares e outras que realmente se cruzam entre si. A figura ilustra essa abordagem analítica do desenvolvimento e abandona o seqüenciamento rigoroso piagetiano.
(C) Figura 3
(teia de aranha)
(3) Nosso conhecimento sobre qualquer tema é sempre apenas parcialmente explícito, ou passível de explicitação, sendo, em sua maior parte, tácito, subjacente. Cada um de nós sempre sabe muito mais, sobre qualquer assunto, do que aquilo que consegue explicitar, expressar em palavras.
(D) Figura 4
(iceberg)
(4) O conhecimento é considerado como uma seqüência lógica que Vergnaud chama de ordem total da representação do desenvolvimento piagetiano.

A leitura correta de cima para baixo da associação entre as duas colunas é:
a.       (   ) A4; B2; C1; D3;
b.       (   ) A4; B3; C2; D1;
c.        (   ) A1; B2; C3; D4;
d.       (   ) A1; B3; C2; D4;
e.       ( X  ) A4; B1; C2; D3;
O prazo para envio desta questão resolvida é até 23h59min do dia 06.03.18.

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